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quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Adeus




Olá pessoal!

As pessoas que me conhecem sabem que eu tenho o péssimo hábito de não terminar várias paradas que eu começo. Estou escrevendo aqui hoje pra avisar ao caro amigo leitor que vou fazer isso mais uma vez.

Aos que ainda visitavam aqui o blog, adiós. Não voltarei a postar aqui e, no momento, em nenhum outro lugar. Os Pontos de Vida do aprendiz acabaram.

Quem conhece a minha história de vida sabe que eu já sou um pouco calejado no quesito tomar porrada da vida. Não que eu tenha uma vida ruim, ou que eu passe fome, ou sofra bullyng, ou que torça pelo Fluminense e tenha assistido à jogos da terceira divisão no Maracanã (tá, a parte do Fluminense é verdade).

A maioria das pessoas tem que enfrentar seu primeiro problema quando gosta de uma menina e tem vergonha de se declarar, ou então fica cheia de dúvidas sobre que rumo tomar na vida, ou coisas assim.

Meu primeiro desafio foi ficar vivo.

Eu tive uma doença em que, na época, a taxa de sobrevivência era de 1 em 1 milhão. Ninguém achava que eu ia sobreviver. Só eu. Eu tinha certeza, e falava pros meus pais que ia dar tudo certo. Eu só tinha 3 anos, mas eu sabia que ia dar tudo certo.

Meu pai me diz que isso forjou meu aço logo cedo. Eu penso que ainda não sei se já sou aço verdadeiro, que se molda, flexiona, corta, resiste e não quebra, ou se ainda sou ferro, que é rígido e ao invés de dobrar, trinca e se parte. Só sei que esse problema foi meu primeiro batismo.

Fui fazer faculdade de medicina porque eu queria ajudar as pessoas. Não me decepcionei. Apesar de um milhão de problemas que o sistema de saúde tem no país e de algumas pessoas que insistem em fazer besteira e manchar a profissão, cada pequena vez que eu ajudei alguém, que eu fui útil pra um paciente, que eu segurei a mão de alguém que sentia dor, já valeu. E ainda haverão muitos outros momentos assim, eu espero. Só que eu me deparei com alguns problemas no percurso. Normal, todo mundo tem os seus.

Eu realmente detesto a comparação da medicina com um sacerdócio, mas parece que isso está intrincado na mente do mundo. Médicos são vistos como criaturinhas diferentes, e eu tou muito cansado de ser diferente. Tenho uma perna menor e mais fraca que a outra, sequela da minha doença de moleque. Tinha mais grana do que a maioria dos meus amigos que estudavam na escola pública que eu estudei. Sempre precisei estudar pouco pra tirar notas boas e aprender. É foda ser visto como diferente, quando levantam uma parede invisível que te separa dos outros. Tudo o que você gostaria era a aceitação, e todo gamer sabe que parede invisível tira foda a imersão.

Estou cansado de ser visto como diferente, mas acho que me acostumei. Melhor se acostumar, aliás, se não quer desistir da medicina. Mas não deixe que o senso comum norteie seus pensamentos. Sim, alguns sonhos vão ter que ficar pra trás para que outros se realizem ou venham a ser sonhados. Mas não desista do fundamental. Alguns desejos seus são o que te define, e não se deve abrir mão desses.

Eu amo escrever e desenhar. Faz parte do que eu sou. Adoro fazer várias outras coisas, como jogar games, card games, ficar de bobeira e fuçar a internet. Nada de errado com isso. Mas, contudo, todavia, entretanto, eu tenho errado em escolhas e no meu caminho.

Como me disse uma pessoa muito sábia, sou irresponsável, não sou asseado, sou desorganizado e não dou valor ao que ganho. Minha personalidade e caráter são erros que foram cometidos por mim e por quem me educou. Não tenho iniciativa, não sei resolver meus problemas com presteza e vou apanhar muito da vida quando precisar me virar sozinho.

Ouvir isso teve um lado bom e um ruim.

O ruim é que é verdade. Sou mesmo uma pessoa ruim, embora não concorde com tudo o que foi falado, a maioria está correta. É foda dar de cara com vários dos seus defeitos, jogados na sua cara de uma vez só e não ter o que responder.

O bom é que encheu meu peito. Preciso mudar. Muito. Preciso me dedicar ao que merece dedicação e ao que vai me trazer retorno para levar adiante meus planos.

É por isso, meus queridos leitores, que vou ficar fora de circulação da internet por um bom tempo. Amo escrever, mas preciso estudar, vou começar a trabalhar em 2012 e, se tudo correr bem, em alguns anos eu posso voltar a criar histórias e contos (e, quem sabe, finalmente escrever meu livro).

Agradeço muito mesmo ao apoio daquela meia dúzia de pessoas que vinha aqui, lia o que eu escrevia, comentava, falava comigo na faculdade ou no msn/skype/facebook sobre o que estava aqui no blog. Obrigado mesmo galera. Cada um de vocês (seis ou sete, rsrsrs) vai estar sempre comigo, me dando força mesmo sem saber, e multiplicando a energia que eu estarei empregando na vida.

Eu já passei por um batismo onde o ferro foi moldado. Agora tá na hora de forjar meu verdadeiro aço.

Um abraço enorme para todos vocês. Enorme mesmo. Não vai ter próxima batalha aqui. Não dessa vez.

E adeus.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Histórias da Taverna



Olá Pessoal!

Como vão as senhoras e os senhores? Eu vou indo, com o tempo bizarramente escasso e dividido entre estudar feito um condenado, desenhar, jogar PS3, RPG e alimentar meu novo hobbye (vício), Magic the gathering.

Anyway, hoje eu vim falar sobre um bloqueio que eu tenho. Uma dificuldade enorme em escrever histórias com protagonistas femininas.

Então, sob influência (ou quase intimidação) de meu grande amigo Rafero, eu vou escrever um pequeno arco de um prólogo e cinco capítulos com uma protagonista feminina!!

Ah, sim, cá está o concept art que inspirou a protagonista (e seu fiel companheiro).



Yupi!!

Fiquem agora com a introdução!

Grande abraço e até a próxima batalha!

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OmniField - Prólogo

O ser de pura energia lhe guiava pelos túneis labirínticos da USS Shanbara. O cruzador espacial estava em meio à uma abordagem, e as centenas de naves classe Berserker atacavam sem cessar. Pequenos caças Kindred partiam para interceptar os saqueadores, mas era tarde demais.

A USS Shanbara, maior cruzador de Arkoria, seria destruído.

A tenente Valerian seguia a forma luminosa. Corria com toda a força de suas pernas aliada aos servomotores de seu exoesqueleto. Tinha uma missão e ela precisava ser cumprida. Agarrou-se à uma pilastra quando um abalo do cruzador ameaçou atirá-la ao chão. Com um movimento fluido pôs-se novamente em carga. Atravessou um cruzamento onde dois soldados jaziam mortos no chão e viu um oficial de alta patente encolhido de medo em um canto, aguardando a morte.

Valerian não podia se dar o luxo de sentir medo, não naquele momento. Chegou ao refeitório e continuou em alta velocidade, saltando por cima de uma das mesas que, tombada, obstruía o caminho. O ser de luz agora estava quase fora do alcance, flutuando sobre as escadas que levavam ao mezanino que, segundo ela lembrava, conduziria ao átrio.

Subiu as escadas galgando os degraus de três em três. Ouviu uma explosão à distância, e soube que lhe restava muito pouco tempo. Alcançou o átrio a tempo de ver a forma luminosa atravessar uma porta metálica. Apressou-se até a porta e, na pressa, chutou-a com força, quebrando a tranca e escancarando-a. Mais uma vez os servomotores de sua armadura classe A.M.A.Z.O.N.A. se mostravam versáteis e muito úteis.

Dentro do aposento, o ser de luz flutuava sobre um leito. Nele jazia a filha do rei de Arkoria, Helena. Valerian não poderia deixá-la para trás. Caminhou até a menina e a ergueu nos braços. Sorriu ao ver que estava sem ferimentos, apenas entorpecida, ainda, pelo sono de estase. Isso seria facilmente resolvido.

Ouviu passos se aproximando pela porta arrombada. Virou-se. Encarando-a estava uma criatura de metal e carne, um cyborg S.A.W. que se aproximou em fúria. Os dedos das mãos eram lâminas que se moviam como serras circulares. A boca, um universo de espículas afiadas. O golpe foi desferido e Valerian foi acertada no ombro esquerdo. Poderia ter se desviado facilmente, mas não quis expor Helena ao risco de ser ferida. O ser luminoso flutuou e circundou o cyborg em um halo, enquanto a tenente sacou sua arma e disparou quatro vezes. Quatro projéteis certeiros, que foram se alojar dentro do crânio do Cyborg.

Valerian correu pelos corredores, novamente guiada pelo ser de pura energia, até os Escape pods. Durante seu trajeto ela divisava a ruína da USS Shanbara. Gostaria de ter ficado e lutado até a morte. Mas não podia.

Afina, Helena precisava cumprir uma importante missão. E ela não conseguiria sozinha.

Adentrou o Escape pod e programou a rota. Seguiu-se um ruido surdo de desacoplamento e o baque da inércia residual frente ao Arremesso de Dobra.

A tentente Valerian deitou Helena em seu novo leito, enquanto se acomodava, sentada, aos pés da maca. Recostou a cabeça para trás, soltando seus longos cabelos ruivos, antes presos num coque. Estava exausta.

E a missão estava apenas começando.

sábado, 13 de agosto de 2011

Aprendiz de Ferreiro - Capítulo 8



Olá pessoal!!!

Estamos aqui hoje com mais uma parte do conto (finalmente!!!). Espero que gostem, pois foi escrito com carinho. Não custa nada dizer, mas ele é baseado na aventura de RPG que eu venho jogando, com meu personagem Darian, da cidade de Ibelin, que, no momento, está viajando para a capital, com a missão de levar uma importante notícia ao rei.

O culto ao Deus da Morte está voltando.

Fiquem com a história pessoal, e até a próxima batalha!!

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Uma espada na cintura, uma cota de malha sobre o corpo e um cavalo branco.

Essas eram as histórias que eu ouvia quando era criança. Todo grande herói começava sua jornada desse jeito, nos contos que minha avó me contava. Nunca achei que eu sairia de casa desse jeito, mas lá estava eu, em uma manhã chuvosa, cavalgando na estrada Real. Rumava para norte, em direção a capital e levava no bolso interno de minhas vestes um pergaminho com o selo de minha família. A mensagem para o rei era bem clara.

O culto ao Deus da Morte está retornando. Eles estão entre nós.

Enquanto as gotas de chuva iam escorrendo pela cota de couro que vestia por cima da cota de malha, minha mente ia divagando. Uma pergunta continuava martelando, ainda sem resposta. Por que eu havia sido escolhido como alvo. O assassino misterioso não dissera nenhuma pista sobre o porquê de querer me matar. Simplesmente me atacara na mata e morrera antes de poder ser interrogado. Teria sido por causa do metal que meu pai me mandara buscar na floresta, ou teria sido devido ao meu papel na batalha contra os orcs que atacaram Arlia.

Os dias foram passando, banhados em dúvidas e em gotas de chuva, enquanto eu percorria a excelente estrada pavimentada, em direção à capital. Minha primeira parada seria na cidade de Marze, lar da maior escola de alquimia do reino de Britannia.

À distância, após uma curva particularmente longa da estrada, consegui divisar seus insólitos muros. Eram tão altos e grossos quanto os muros de Ibelin, mas eram diferentes. Cada ranhura da parede, que indicava o ponto onde uma pedra encontrava a outra, brilhava em uma intensa coloração esmeralda. As torres de vigia lembravam-me olhos atentos, brilhantes, que geravam fachos de luminosidade e percorriam a estrada e os arredores da muralha como faróis no mar.

Continuei minha cavalgada, agora admirado pela cidade de Marze, quando fui interpelado por guardas locais. Apesar de estar eu mesmo com uma aparência bélica, estranhei a rudeza daqueles guardas, tratamento tão diferente do que se conta, em Ibelin, sobre a hospitalidade da cidade dos alquimistas. Alguma coisa parecia estar errada.

-De onde vem viajante? E o que quer em nossa cidade?

Olhei por um instante, intrigado, antes de responder. O guarda trajava um manto azul escuro por sobre a armadura metálica. Seus punhos seguravam firmemente a lança de duas mãos que carregava, e seus olhos, por baixo da viseira levantada do elmo tinham um ar assustado. Os guardas estavam imersos em medo.

-Sou Darian, de Ibelin. Estou em viagem para a capital, mas pensei em pernoitar em Marze. Compartilho interesses em alquimia, e a cidade é famosa por isso.

Os guardas se entreolharam e as pontas de suas lanças baixaram alguns centímetros. Desmontei do cavalo, pensando, de forma cômica, que ainda não havia lhe dado um nome. Bom, isso poderia esperar. Caminhei lentamente até os guardas, que correram seus olhos da minha espada embainhada para a pistola de pólvora no coldre. Senti suas lanças se erguerem um pouco mais, mas tentei não esboçar reação.

-O que estão fazendo? Já não tivemos problemas o bastante, e vocês perdem tempo com um viajante? Seus idiotas!

A mulher que surgiu por trás do portão de Marze era simplesmente a mulher mais bela que eu já havia visto na vida. Tinha os cabelos longos e dourados, os olhos azuis cintilantes e vestia um vestido branco. Ela andava com um ar de confiança que poucas vezes eu havia visto antes na vida. Os guardas imediatamente abaixaram as lanças e entraram em posição de sentido, e eu percebi que aquela era uma cidadã de respeito e alta patente na cidade.

-Forasteiro, desculpe-me os maus modos dos guardas, mas eles estão assustados. A cidade, de fato, está no meio de um problema. Se não for pedir muito, esqueça o que houve e tenha um bom dia em nossa Marze.

Ela disse tudo aquilo com um sorriso no rosto, mas parecia forçado. Franzi o cenho, mas assenti, e caminhei por sob o arco do portão. A praça de Marze era de uma beleza sem igual. Uma fonte enorme enfeitava o centro dela, e os prédios no entorno tinham entre cinco e seis andares, parecendo grandes monolitos de pedra lisa e lustrosa com janelas e portas. Algumas barracas vendiam itens alquímicos nas praças, desde ingredientes até elixires totalmente preparados e funcionais.

Duas crianças passaram correndo por mim, enquanto eu olhava os vendedores. Imediatamente uma mulher, a mãe deles, presumi, os pegou pelas vestes e os levou para dentro de casa. O olhar de medo que ela me direcionou continuou me intrigando profundamente. Isso deve ter transparecido em minha face.

-Acho que você não é do tipo de forasteiro que só está aqui pelos elixires, não?

A mulher do portão me olhava enquanto falava comigo. Me olhava nos olhos. Eu tinha a sensação de que minha alma estava sendo lida, naquele momento. Pelo que ela me explicou depois, não foi uma sensação de todo infundada.

-Não, não sou. Tenho uma viagem maior para fazer, até a capital. Realmente o conhecimento de Marze me atrai, mas não consigo deixar de pensar que há algo errado aqui. Por que não experimenta me contar o que se passa, e de repente eu posso até ser de alguma ajuda.

Ela me olhou como se me estudasse longamente, antes de, por fim, sanar minha curiosidade.

-Houve um sequestro há duas noites. Dez crianças foram levadas, e o sequestrador enviou uma nota, pedindo um resgate.

Franzi o cenho e entendi o medo daquela senhora ao agarrar seus filhos e os levar pra dentro de casa.

-E o que ele pediu?

-O Codex de Mármore.

Já havia ouvido esse nome antes. Os bardos, quando contavam histórias sobre Marze, sempre o citavam. A pedra fundamental da alquimia humana. A tabuleta que continha todo o conhecimento alquímico de Marze. Ali estava um sequestrador que pedia uma grande quantia pelos seus reféns.

-E vão lhe entregar o Codex? Quer dizer... por que não mandam soldados?

Ela sorriu, de forma triste.

-Já enviamos. Todos os nossos trinta soldados. E quase todos morreram. O sequestrador contratou mercenários para patrulhar os entornos de seu esconderijo. Além disso, alguns soldados sobreviventes disseram que o sequestrador é um mago poderoso e eles mal tiveram tempo de sacar suas armas antes de ser tarde demais. Acho que agora só nos resta dar o que ele pede... inocentes não devem sofrer por causa de algo tão bobo quanto esse conhecimento.

Fiquei impressionado com as palavras dela. Como alguém de Marze podia chamar o conhecimento alquímico de algo bobo. Mas, vendo o carinho no olhar dela enquanto olhava as crianças que ainda estavam na cidade, os cidadãos que levavam os pequenos pelas mãos até as soleiras de casa, os vendedores, os guardas, eu entendi. Ela valorizava muito mais todas aquelas pessoas do que uma tabuleta. Sorri.

-Bem, isso realmente é um problema não? Hum... me diga uma coisa, senhorita. Em qual direção os guardas disseram que é o esconderijo do sequestrador?

Ela falou antes de pensar.

-Norte, no coração da Floresta dos Segredos. Mas... por que quer saber?

Olhei para o meu cavalo, acariciando sua crina, e entreguei as rédeas para a mulher.

-Só para saber onde está o mago, oras. Afinal, já está na hora de alguém dar um bom soco nesse imbecil e trazer as crianças de volta.

Ela me olhou em choque enquanto segurava as rédeas de meu cavalo branco.

-Mas... senhor, trinta guardas foram derrotados. Como o senhor acha que apenas um homem vai sair vitorioso de lá?

Parei frente à uma venda de elixires e produtos alquímicos. Comprei quatro. Olhei para ela e sorri.

-Hum, acho que eu tenho sorte. Bem, se eu voltar vivo, lhe conto como foi a luta de um garoto com uma espada de madeira contra um chefe orc.

Saí da cidade, decidido. Era hora de uma aventura pela floresta.

Continua...

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Um pequeno PS: Quando estávamos jogando a aventura que deu origem ao conto, houve uma imagem de um jogo (que eu não me lembro qual, pra falar a verdade) que foi utilizada para ser a base da "mulher do portão". Então, coloco aqui embaixo para vocês verem como ela é. Agora sempre que aparecer alguém que teve como base um concept art ou coisa assim, vou postar a referência também.

Abração!



terça-feira, 2 de agosto de 2011

Rotinas de Aprendiz



Olá pessoal! Tudo de boa com todos, eu espero!

Então, estou eu aqui de volta, para retornar à regularidade de um post semanal com conto! Não, o conto não sai hoje, mas esse post é só para sair da inércia que as obrigações da faculdade e uma eventual preguiça e mau humor me colocaram.

A inspiração desse post veio de uma postagem mais ou menos antiga, do blog do meu grande nakama (aquele amigo que é como família, pra quem não conhece o termo), o Bardo Rafero.

Estava eu pensando na questão apontada no citado post pelo meu brother Rafero, sobre, se rolasse o apocalipse zumbi, o objeto diretamente à sua esquerda fosse a única arma que eu iria dispor. Olhei para a esquerda e vi um celular e um relógio... Assim a sobrevivência durante a invasão dos mortos-vivos iria ficar difícil. Então eu resolvi tomar uma providência.



Agora acho que já dá pra brincar um pouco XD

E vocês amigos? Qual o objeto imediatamente à sua esquerda?

Grande abraço e até a próxima batalha! (Que pode vir a ser contra zumbis, já pensaram nisso?)

domingo, 10 de julho de 2011

Aprendiz de Ferreiro - Capítulo 7



Olá pessoal!

A faculdade quebrando o meu tempo (tá ok, e o PS3 também) e eu ficando um mês sem postar... Isso não se repetirá! Então meus queridos, fiquem com o próximo capítulo do conto aqui, e aguardem novidades para essa semana!

Abração e até a próxima batalha!

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Definitivamente eu estava ficando melhor nisso.

É engraçado como as lutas passam em borrões de memória quando tentamos nos lembrar delas mas, na hora, parece que são tão lentas quanto a neve sendo carregada pelo vento. O homem de sobretudo investiu em minha direção, a espada tendo como alvo o meu braço do escudo, na altura do ombro. Me desloquei para trás, saindo do alcance do ataque.

Eu mantinha os meus olhos nos dele o tempo todo. Eram olhos opacos, loucos, mas me diziam a intenção de seu golpe, onde queria me acertar. Investi uma vez, mas meu ataque foi aparado por sua lâmina, e o contragolpe quase me cortou fora o pescoço. Defendi por um fio de cabelo e novamente me afastei para ganhar espaço.

Meu adversário tinha uma excelente postura de combate, mantendo o escudo sempre em guarda alta, e a espada posicionada de forma que seus contragolpes aproveitavam o máximo de sua corpulência de velocidade. Um assaltante de estrada não podia ser tão bem treinado assim.

Investi novamente, tendo seu braço da espada como objetivo, mas meu golpe foi bloqueado por um movimento circular do escudo e sua espada novamente passou próxima de minha garganta. Recuei dois passos e assumi novamente a postura de combate, segurando minha arma com as duas mãos, a ponta da lâmina na direção entre os olhos de meu oponente, à frente de meu corpo. Uma postura defensiva, que me foi ensinada pelo mestre de armas da propriedade de meu pai.

Os segundos seguintes foram tão rápidos que mal me lembro. O assassino avançou, girando sua espada sobre sua cabeça e promovendo um arco descendente, visando minha testa. Com a ponta de minha espada atingi sua arma, desviando a rota do golpe, que passou, inofensivo, à minha direita. Em um movimento fluido, desci a espada, de forma circular, em sua coxa direita. Era meu primeiro golpe com aço atingindo couro, tecido, carne e ossos. Nunca havia aprendido a calcular a força de um golpe. Mal sabia o quão afiada era minha espada.

Separei a perna do assassino de seu corpo.

O arco de sangue que se fez no ar é algo que jamais esquecerei. O grito do homem que antes me ameaçava quase me deu pena. Ele cambaleou e caiu. A ferida que sobrou em seu membro inferior direito jorrava um volume de sangue que eu mal sabia existir dentro do corpo humano. Ele deixou cair a espada e o escudo e agarrou o resto de coxa com as duas mãos. Pouco depois, pálido, perdeu os sentidos.

Eu confesso que fiquei alguns momentos em choque, parado. Mas tinha que fazer algo para salvá-lo. Utilizei tecidos para fazer uma bandagem na ferida, para que o sangue parasse de fluir. Não tive muito sucesso. Rapidamente coloquei a carga de minério no lombo do cavalo, e ergui o homem e seus equipamentos em minhas costas, avançando o mais rápido que podia no sentido de Ibelin. Não senti o tempo passar, tamanho era meu desespero. Por isso não percebi que, por vários minutos, carreguei um cadáver. O assassino se esvaiu em sangue durante o trajeto e eu nada pude fazer para salvá-lo.

Caminhei para fora da trilha e o deitei ao lado de uma árvore. Peguei sua armadura, seu escudo e sua espada. Sujo de sangue, caminhei de volta para Ibelin, ao lado do cavalo. Depois de algumas horas de caminhada, avistei novamente as muralhas seguras de minha cidade. Ao me aproximar da entrada do portão, fui interpelado pelos guardas, afinal, estava totalmente sujo de sangue e fazia todo sentido os guardas me abordarem. Depois de explicações, andei até a casa de meu pai.

O final daquela tarde passou também como um borrão. Minha mãe absurdamente preocupada por me ver banhado em sangue, embora não fosse meu. Já meu velho pai me conduziu até a forja, depois que os auxiliares foram liberados, e começou a martelar uma ombreira metálica. Olhou-me pelo canto dos olhos e se pronunciou.

-Então meu filho. Me conte o que aconteceu.

Sentei-me em um banco e iniciei meu relato. Enquanto forjava a peça de metal me ouvia atentamente. Quando terminei, ele me olhou fundo nos olhos antes de proferir suas palavras. Palavras aquelas que mudariam muito a minha vida.

-Você viaja para a capital amanhã. Levará uma mensagem minha para o Rei.

Olhei para ele atônito. Iria mais distante de casa sozinho do que jamais havia ido.

Continua...

domingo, 5 de junho de 2011

Aprendiz de Ferreiro - Capítulo 6



Olá pessoal!

Mais uma vez atrasado, mas tentando me acertar! Agora com uma poderosa internet de 5MB e meu scanner funcionando normalmente, tou até no clima de post com desenho!



A imagem é de Darian, após a batalha de Arlia. Notando que precisava de mais proteção, ele forjou uma armadura metálica e, além disso, uma espada de verdade.

Esse capítulo é sobre isso.

Um grande abraço e até a próxima batalha!

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Duas semanas tinham se passado desde a batalha sob os muros de Arlia.

Por mais incrível que tivesse sido meu último mês, os últimos quinze dias se mostraram um retorno enorme à rotina. Voltei para Ibelin, para os trabalhos na forja, meus treinamentos com os livros. A cada noite que se passava eu me recolhia cedo para o quarto, cansado, e olhava com certa reverência para o que sobrara da minha espada de madeira partida.

Na minha cabeça as informações mais recentes que eu recebera ao voltar para minha cidade natal se misturavam com os sentimentos daquela batalha, e do depois. Meu pai me contara porque o Corpo de Artilheiros de Ibelin não havia ido em auxílio de Arlia. Eles tinham marchado para o Sul, indo ajudar um castelo de Triannor que havia sido tomado de assalto.

Mais notícias de conflitos armados foram chegando aos meus ouvidos com o passar dos dias, e eu comecei a pensar que a minha rotina acabaria sendo quebrada mais cedo ou mais tarde. Passei a utilizar meus horários livres para trabalhar em algo que vinha inundando meus pensamentos desde o combate com o líder orc.

Eu forjaria minha primeira espada de aço.

No momento em que minha espada de madeira quebrara eu sequer tinha atentado para um detalhe que agora me perturbava. Caso eu não estivesse com a vantagem naquele campo, eu teria sido morto, pois ficara desarmado. Voltei para Ibelin com a idéia de forjar uma espada de metal em mente. Conversei com meu pai sobre isso, e ele, como sempre, não se mostrou nem contra, nem à favor, deixando a decisão toda comigo. Minha mãe, obviamente, era contra. Tinha ficado cheia de preocupações quando soube da luta em Arlia, e queria, de todo o coração, que eu ficasse na cidade e fosse um ferreiro normal.

Passei meus dias pensando no que deveria fazer. Estava acostumado a utilizar a espada com as duas mãos, então decidi por seguir essa linha. Comprei material e iniciei o trabalho da espada pelo cabo e o pomelo. A cada noite que eu passava dando forma à madeira e ao couro, sentia o pingente de Adrianna roçar em meu peito. Já não a via faz um mês, e seu rosto começava aos poucos a se apagar em minha mente, mas o calor de seus lábios e de seu hálito ainda se fazia sentir em minha boca. Ou, claro, eu podia apenas estar delirando.

Demorei quase vinte dias, mas finalmente terminei meu trabalho. Uma bela espada de duas mãos, com dois gumes afiados, e uma guarda em cruz, boa para defender os golpes que escorregariam pela lâmina e visariam meus dedos. Estava feliz novamente e passei a treinar todos os dias com ela. No início percebi a diferença do peso e vi que não era forte o suficiente para utilizá-la apropriadamente. Em uma batalha, precisaria decidir rápido, ou o cansaço me venceria.

Sequer imaginava que seria posto à prova tão cedo.

Em uma manhã chuvosa do início da semana, meu pai me pediu para ir até a casa de um conhecido seu, na floresta do leste. Material especial, ele me disse. Vesti a cota de malha, só para sentir novamente seu peso, e coloquei a espada na bainha. Mais uma vez eu estava em viagem, ainda que fosse bem curta dessa vez. Após um dia e uma noite sob o chuvisco característico da estação, eu avistei uma casa de madeira no meio de uma clareira na mata.

O senhor Carter era um homem de idade, com os cabelos brancos e uma barba aparada. Vestia-se com calças de couro curtido e camisa de algodão, e estava sentado na varanda, fumando um cachimbo. Quando me viu chegando, na carroça, abriu um largo sorriso e se levantou, vindo me receber.

- Ora vejam só, faz tempos que não tenho um visitante por aqui!

Sorri, apeando.

- Senhor Carter, não é? Eu sou Darian, filho de Bastian, de Ibelin.

Ele abriu um sorriso tão largo que o cachimbo quase caiu de sua boca.

- O velho Bastian, como ele anda? Então ele teve um filho! Quem diria... e eu achava que ele só pensava em forja e aço. Venha, vamos tomar um chá, enquanto você me conta as novidades da cidade.

E, em alguns minutos, lá estávamos nós dois, sentados na varanda, bebendo chá em uma prataria de porcelana. Qualidade muito alta para uma cabana no meio da floresta, pensei. Por talvez uma hora ele me ouviu contar sobre Ibelin, Arlia, os conflitos no continente, apenas meneando a cabeça e fazendo comentários que não entendi. Depois disso ele sorriu, e me pediu para levar a notícia de que o reino de Franca, ao norte, estava enfrentando problemas com bárbaros. Aparentemente os Anões das montanhas tinham se tornado um problema tão grande que o povo nômade das terras altas tinha resolvido descer, tentando invadir as terras dos francos.

- Mas olhe só, o Astro Rei já vai chegando ao meio de seu caminho, realmente ficamos aqui muito tempo! Venha meu rapaz, é hora de você levar sua encomenda.

Dizendo isso, levantou-se e me conduziu até um pequeno celeiro, onde um embrulho esférico, com aproximadamente um metro de diâmetro se encontrava no chão. O ergui, curioso, e o levei para a carroça. Era tão pesado quanto uma armadura metálica completa, mas era uma esfera maciça. Indaguei sobre o que era. Ele me olhou e abriu seu mais largo sorriso.

- É um metal que só os ferreiros de qualidade igual a de seu pai conseguem trabalhar. É chamado de Greyshard por alguns povos. Muito raro, muito raro, mas inigualável. Leve como couro e muito superior em rigidez aos metais convencionais. Imagino as maravilhas que o velho Bastian poderia realizar!

Sorri com o canto da boca. Meu maior sonho ainda era, um dia, superar meu velho. Greyshard. Então esse era o nome da minha meta. Um dia, prometi a mim mesmo, trabalharia o tão difícil metal. Eu não sabia, mas isso também era algo que viria a fazer uma grande diferença no futuro.

Segui viagem de volta, cantarolando uma canção muito comum das ruas de Ibelin. Minha viagem, no entanto, não seria tranquila.

Afinal, eu estava sendo seguido, e o golpe que veio, descendente, na direção do meu rosto, só não tirou minha vida porque o cavalo se assustou e acelerou com a carroça. Uma linha de sangue foi traçada abaixo do meu olho esquerdo, enquanto eu tentava retomar o controle do veículo.

Ouvi um barulho alto e soube que estava encrencado. A roda traseira partira e o melhor que eu pude fazer foi parar a carroça sem virá-la. Saltei, apressado, e saquei a espada.

Na minha frente, um homem de talvez dois metros de altura. Tinha os cabelos rentes ao crânio, pretos, uma barba crescendo irregular. Usava um sobretudo negro e uma armadura de couro da mesma tonalidade. Na mão direita, uma espada longa. Na esquerda, um escudo pesado de madeira. Me olhava nos olhos com um sorriso doentio, e eu soube que tudo o que ele queria ali era acabar com a minha vida.

Seria meu primeiro duelo com aço.

Continua...

domingo, 15 de maio de 2011

Aprendiz de Ferreiro - Capítulo 5



Olá pessoal!

Conseguindo uma periodicidade decente novamente! Semanal, pelo menos, rsrs.
Chega agora mais um capítulo da minha série Midseason, baseada na aventura de RPG que ando jogando. O bom é que voltei a jogar, depois de dois meses parado, então a inspiração voltou junto! Além disso, diversão sempre é bom!
Fiquem com mais um capítulo!

Grande abraço e até a próxima batalha!

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Na noite que antecedeu a batalha nos muros de Arlia eu fui visitado.

O Sol já havia se escondido atrás das montanhas, e eu estava sentado em um quarto na casa da família do ferreiro da cidade. A palha me servia de colchão, enquanto eu comia uma tigela de sopa e pão, olhando as estrelas através da janela. Trajava apenas calças, de torso nu e descalço, sentindo o vento frio da noite se aproximar.

- Amanhã é o grande dia, Darian.

John estava parado no batente da porta do quarto. As sombras se mesclavam com sua capa e eu realmente admirava a capacidade dos Arqueiros Reais de se camuflarem em qualquer ambiente. Não carregava consigo seu arco longo ou sua sacola de flechas. Trazia apenas as facas embainhadas no cinto. Caminhou até a janela e apoiou as mãos, olhando também para as estrelas.

- Eu quero que você lute na parede do centro. É o nosso ponto mais frágil. As paliçadas não foram o suficiente para reforçar a defesa ali, a luta vai ser aberta, e eu vou comandar o corpo de arqueiros, no flanco direito.

Comi mais uma colherada de sopa e mordi um pedaço de pão. Coloquei a tigela no chão e me levantei, andando até a janela.

- As informações que temos são mesmo confiáveis?

John me olhou de lado.

- São. Interroguei o prisioneiro pessoalmente. São mil guerreiros e quinhentos arqueiros. O resto são escravos, que não vão tomar parte no combate. As armadilhas foram plantadas no campo.

Suspirei.

- Vai funcionar?

John sorriu.

- Melhor funcionar garoto. Não tenho a mínima intenção de morrer por aqui.

Na manhã seguinte acordei antes do Sol nascer. Caminhei até o pátio e fiz meus exercícios matinais. Repeti várias vezes as séries de espada. Ri de mim mesmo. Um garoto com uma espada de madeira em uma parede de escudos. Minha primeira parede de escudos. Alef apareceu no pátio quando eu terminava a série. Meu irmão elfo se aproximou e ele tinha uma felicidade no rosto. Pensando, hoje, Alef nunca acreditou na derrota. Me contou que iria estar sob o comando de John na batalha, compondo o corpo de arqueiros. Deu-me um tapinha no ombro e me perguntou se eu não queria ir pra cama com alguma mulher da cidade.

Sim, ele tinha o dom para me deixar sem graça.

Almocei junto com os soldados que iriam compor o centro. Elias e Bart estavam lá e fiquei contente por isso. Sabia que eram bons lutadores. Após o almoço, cada soldado se ocupou com alguma tarefa, e eu sentei próximo ao ponto que defenderíamos, sobre a grama maltratada, e me concentrei em acertar as amarras da minha loriga de couro e do camisão de cota de malha que eu mesmo havia forjado nos últimos dias. Aparei algumas arestas lascadas de minha espada.

Foi quando ouvi os tambores.

Entrando no vale eu vi os soldados orcs em formação. Vinham chocando suas lanças em seus escudos de forma lenta e ritmada. Alguns Orcs vinham utilizando grandes tambores presos às costas, que faziam retumbar com baquetas que mais se assimilavam à clavas. Atrás de cinco fileiras de lanceiros vinham os arqueiros. Mais atrás vinham os escravos, mais franzinos e cuidando de carroças e suprimentos.

Apenas um cavaleiro.

Vinha à frente do exército, trajando cota de malha e um manto negro de peles. Seu cavalo era cor de piche e era, sem dúvida, o maior cavalo de guerra que eu já havia visto. O cavaleiro orc empunhava uma lança longa na mão direita e portava um escudo à esquerda que lhe cobria do ombro ao joelho, sem qualquer símbolo. Seu rosto era assustador, me lembro. Tinha a pele cinza-esverdeada dos orcs. Suas presas subiam acima dos lábios inferiores de um maxilar prognata. Os cabelos espessos e escuros mais pareciam uma juba leonina, e suas orelhas ostentavam brincos feitos com ossos.

Nossa linha se formou, os escudos se tocando, formando uma sólida parede. Tínhamos aproximadamente trezentos e cinquenta soldados, formados em duas fileiras apenas. Nossos arqueiros estavam posicionados à lateral dos muros e sobre eles. Tínhamos apenas trinta cavaleiros, reforço mandado por Ibelin. Eu queria ali o corpo de artilheiros de minha cidade, mas não foram enviados. Mais tarde vim a saber que haviam também problemas ao sul.

Os orcs avançaram, e eu me lembro de poucos detalhes da batalha. Quando as paredes de escudos se tocam, o mundo externo deixa de existir. O espaço é apertado, um escudo colado ao outro, roçando no escudo de seus inimigos. Na parede de escudos eu descobri que a guerra se trava na borda inferior deles. Perdi a conta das estocadas que passaram por baixo dos escudos e cortaram calcanhares ou tornozelos.

Lembro-me de ter matado talvez três ou quatro orcs, acertando seus crânios com força, nas raras ocasiões em que pude brandir a espada com um pouco mais de espaço. Feri mais alguns e não consegui fazer mais nada enquanto as paredes estavam unidas.

Ouvi os tambores tocando em outro ritmo e soube que os reforços, a terceira e quarta linha de orcs vinha se juntar à batalha. Estaríamos acabados. Mal conseguíamos segurar as linhas que nos atacavam. Tínhamos matado mais que eles, mas mesmo assim seus números continuavam maiores que os nossos. Temi, e senti o temor se espalhar pela linha de defesa do centro.

Foi aí que nossa sorte mudou.

Vi chamas enormes irromperem no meio do caminho entre a linha de frente dos orcs e seus reforços. Muitos orcs queimavam e nossos cavaleiros deixaram a segurança dos muros e avançaram rumo à matança.

Nossos cavaleiros atacaram os reforços dos orcs pelo flanco, causando o caos e morte. Nos aproveitamos da vantagem e do ânimo renovado e conseguimos quebrar a parede de escudos dos orcs à nossa frente. Matamos naquela tarde. Não mortes bonitas como cantam os bardos, mas as mortes sujas, em meio a confusão de uma debandada de guerreiros derrotados. Soube, horas mais tarde, que nesse momento os escravos orcs debandaram, e seu líder observou, impotente, sem poder deslocar sua reserva para perseguí-los pelo campo. A luta se demorou pouco mais. Avançamos pelo campo e cercamos os cem orcs que restavam. Mal podia acreditar na vitória que havíamos conquistado.

Mas eu era ingênuo e não sabia que orcs, em geral, lutam até o último vivo.

Cercados e acuados como um grande predador ferido, os orcs avançaram em nossa direção. Tinham cercado seu líder para protegê-lo, mas agora atacavam como bestas enraivecidas. Lutamos naquele campo e perdemos cerca de trinta bons homens antes de conseguirmos refrear os orcs. Sobravam ainda cinquenta inimigos, feridos, mas ainda aguerridos. Perderíamos muito mais homens se aquela situação continuasse.

Foi então que talvez eu tenha sido tomado pelo meu primeiro rompante de loucura.

Avancei sozinho, me destacando da parede de escudos que havíamos formado. Bradei em alto e bom som, para ser ouvido por todos naquele campo de batalha.

- Líder Orc! Vocês lutaram bem hoje, e não precisam morrer todos aqui. Lute comigo agora, eu o desafio! Vencendo ou perdendo, seus homens serão poupados. Se me derrotar, poderão sair desse campo hoje. Se for derrotado, serão feitos prisioneiros, mas tratados com dignidade.

Ainda hoje não sei o que se passava pela minha cabeça naquele momento. Alef me contou que, quando ouviu aquilo, pensou que eu realmente tinha enlouquecido totalmente. O líder orc avançou em minha direção. Abandonou o escudo e brandiu a lança com as duas mãos, aceitando meu desafio.

Meu pai certa vez tinha me dito que você precisa ser três vezes melhor que um homem com uma lança se quer derrotá-lo. Naquela tarde eu aprendi a verdade daquelas palavras.

O líder orc estocou com sua lança e, embora eu tivesse conseguido me esquivar, estava muito longe para contra-atacar e fui alvo de outro ataque. Fui acuado e obrigado a me esquivar de seis ou sete golpes seguidos. Uma varredura quase me derrubou e teria sido meu fim. Arrisquei um golpe, que foi aparado com desdém pelo líder orc. Ele avançou e estocou mais duas vezes e fui forçado a aparar com a espada e o escudo.

Meus movimentos ficavam cada vez mais lentos. Estava cansado e ele realmente era muito mais preparado que eu. Pensei que seria derrotado ali. Dois ataques passaram muito próximos da minha garganta e do meu cotovelo. Ataquei novamente, sem sucesso. O líder orc lia meus movimentos com facilidade. Sentia que ele se divertia com o temor que estava me causando, e sua frustração naquele campo estava se tornando um prazer cruel. Enfrentava, aos seus olhos, uma criança insolente, e queria castigá-la.

Eu mal conseguia ficar de pé. Saltava de um lado para o outro, mas minhas forças estavam se exaurindo. Mais cedo ou mais tarde eu seria atingido.

Não fazia idéia que isso selaria minha vitória.

Mal consegui ver a estocada. Tinha alvo certo, meu coração. A ponta da lança bateu em meu escudo, resvalou alguns centímetros para baixo, atingindo o ponto exato sobre meu coração. Uma exclamação subiu em meus companheiros de batalha, enquanto que um urro de triunfo partiu dos orcs restantes.

Mas meu pai tinha me ensinado a ser um bom ferreiro.

A ponta da lança atravessou couro e tecido, mas parou entre os elos da cota de malha que eu havia forjado. Me aproveitei do momento de surpresa do líder orc, e desferi um golpe,segurando o cabo da espada com as duas mãos e baixando-a com toda minha força.

Duas coisas se quebraram naquele momento. Minha espada e a perna direita do líder orc, que tombou no campo, sem conseguir conter a dor e a decepção. Tinha sido derrotado por uma criança, e seus soldados seriam feitos prisioneiros.

Uma ovação partiu de meus companheiros, enquanto eu levantava o braço da espada em triunfo, segurando o cabo e os vinte centímetros da lâmina que haviam sobrado.

Prendemos os orcs e o líder foi levado para ser interrogado por John. Alef me abraçou, me chamou de louco, e depois caminhamos de volta para a cidade, onde fui abraçado por Adrianna, a jovem que eu e meu irmão tínhamos salvo na floresta. Ela beijou meus lábios e me deu um cordão de prata, com uma jóia esmeralda engastada. Era rústico, mas muito bonito, e ela me forçou a aceitar o presente.

Naquela noite, celebramos a vitória com gosto e, na manhã seguinte, partiríamos de volta para Ibelin. Acordei cedo, como em todas as manhãs, e, ao invés de cumprir minha rotina de exercícios, resolvi caminhar no campo de batalha.

A desolação era imensa. Corpos de quase um milhar de orcs jaziam mutilados e apodrecendo. Soldados conhecidos e desconhecidos dividiam o espaço do chão frio. Caminhei por ali, pensando no dia de ontem. A fúria da batalha, o prazer de vencer um inimigo. A sensação de tirar uma vida. Todos sentimentos conflitantes.

Até que um orc morto chamou minha atenção. Em seu pescoço, um cordão com pingente, sujo de sangue. Um símbolo ancestral.

O Lobo negro com quatro asas.

O símbolo do Deus da Morte.

Minha vitória tornou-se opaca. O pior ainda estava por vir.

Continua...