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domingo, 17 de abril de 2011

Aprendiz de Ferreiro - Capítulo 4



Olá pessoal!

Por causa de problemas técnicos (e essa vida atarefada que eu ando levando) fiquei um bom tempo sem postar aqui... mas agora é hora de voltar com regularidade!

Então, apesar de continuar sem scanner e, por isso, ficar sem desenhos para colocar aqui, no contexto da história, vamos para mais um capítulo da minha série Midseason!

Um grande abraço para todos e tomara que essa semana eu consiga superar os probleminhas!

Até a próxima batalha!

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Naquele final de tarde chovia muito. O céu estava mesclado entre tons de cinza e laranja, e meus pés afundavam na lama até os tornozelos. Fazia seis dias desde que eu e meu irmão elfo tínhamos avisado em Ibelin sobre os ataques em Arlia.

Agora nós éramos reforço.

O prefeito de minha cidade decidiu enviar uma tropa armada para auxiliar Arlia. Eu não fazia parte dessa tropa. Alef tinha ficado cuidando dos feridos da milícia arliana, utilizando suas habilidades mágicas menores. Eu parti com um grupo de batedores.

Estávamos em cinco. Liderados por um homem no mínimo peculiar. Tinha uma cabeça a menos de altura que eu, era atarracado, com os cabelos raiados de cinza, pela idade, e um queixo quadrado, firme. Chamava-se John, e fazia parte do Corpo de Arqueiros do Reino e trajava sua tradicional capa camuflada.

Elias e Bart eram irmãos, ambos soldados por profissão. Elias, o mais velho, era alto e careca, com uma barba trançada que lhe chegava ao meio do peito. Bart, por sua vez, era um pouco mais baixo que eu, e tinha cabelos longos em uma trança única que atingia sua cintura. Ambos trajavam cotas de malha e carregavam, respectivamente, um machado de duas mãos e uma espada bastarda.

O quinto componente era Levy, um dos tantos soldados de Arlia que era treinado no uso de bestas de repetição. Era mais alto que eu, cabelos curtos em um corte militar e imberbe. Trajava cota de malha e na cintura levava uma espada curta. A besta sempre ficava em suas mãos, pronta para disparar.

Já devíamos estar caminhando há, talvez, cinco ou seis horas. John forçou uma marcha acelerada no início, e agora nos fazia praticamente rastejar. Eu sentia os respingos de lama no meu rosto, a umidade se entranhando em minhas vestes. Não era nada agradável. Eu nunca havia gostado de dormir ao relento, e agora lá estava eu, chafurdando.

A luz do dia começava a se tornar mínima, como se uma cortina de penumbra cobrisse o mundo. Subimos uma colina levemente inclinada e, do alto, pudemos ter uma visão privilegiada do que afligiria Arlia. Lembro-me bem de arregalar os olhos e deixar o queixo pendente quando comecei a contar.

Pelo vale abaixo, cerca de uns quinhentos passos de nós, os orcs marchavam. Eram três enormes blocos no mesmo ritmo. O bloco da frente era composto por soldados envergando pesadas cotas de malha, com couro e peles as cobrindo. Portavam uma variedade de armas. Espadas, machados, lanças e piques. O segundo bloco era composto de lanceiros e arqueiros, também pesadamente vestidos. O último bloco era composto pelo que poderia ser uma infantaria e logística. Esses últimos conduziam carroças de madeira puxadas por búfalos castanhos e negros.

Três mil orcs marchavam pelo vale.

Minha estupefação ainda era evidente quando John se pronunciou.

-São três mil orcs. Prestem atenção nas quatro carroças do meio. Os barris.

Ainda um tanto quanto atordoado, foquei minha atenção nas carroças que o arqueiro havia apontado. Lá, nos barriletes, era possível divisar o inconfundível selo dos Alquimistas Livres. Só podia significar uma coisa, que John logo fez o favor de externar.

-Barriletes de pólvora. O suficiente para colocar abaixo as paliçadas de Arlia. Darian, Elias, Bart. Vocês três investirão contra a coluna do final, a partir daquelas árvores ali, na borda. Ataquem, derrubem um ou dois orcs, e corram de volta. Levy e eu cuidaremos da pólvora.

Elias e Bart sacaram suas armas enquanto eu me levantava e sacava minha espada de madeira. Tempos depois, pensando naquele momento, percebo como foi insano. Três guerreiros investirem contra três mil. Suicídio certo. Para minha sorte, John sabia muito bem o que estava fazendo.

Nós investimos.

Esperamos até o último momento, quando a retaguarda da tropa fazia uma curva fechada no vale. Com a espada de madeira em punho, corri e acertei um golpe sobre a orelha de um orc do flanco direito, que cambaleou, perdendo os sentidos. Com a visão perférica vi meus companheiros derrubando outros dois orcs.

Pronto. Nosso ataque surpresa tinha sido um sucesso, e agora os orcs, refeitos do susto, iriam nos trucidar.

Mas não foi assim que aconteceu.

O barulho foi ensurdecedor, como se a trombeta de caça de Elledor tivesse soado dentro dos ouvidos de nós mortais. Uma das carroças que levava pólvora subiu pelo menos um metro e meio no ar, envolvida em chamas e fumaça negra. Três outras explosões se seguiram, em diferentes carroças. Arremeti contra mais um orc do flanco direito, deixando-o no chão.

Uma seta de besta passou zunindo ao lado da minha cabeça, atingindo Elias no ombro. Ouvi o grito "recuar" vindo de Bart, e iniciei o movimento. A confusão e a fumaça nos faziam alvos difíceis, dentro da balbúrdia de orcs, mas eu não contava que alguns deles levariam para o lado, digamos, pessoal.

Barrando minha retirada, um dos maiores orcs que eu já havia visto. Talvez duas cabeças mais alto que eu, trajando uma pele de lobo como capa. O peito nu rasgado de músculos. Em seus braços, um machado de duas mãos quase do meu tamanho. Tinha os olhos avermelhados e bradou um urro ininteligível enquanto erguia o machado e o descia em direção a minha cabeça.

Rolei para o lado enquanto o machado abriu uma vala na terra. O orc era tão forte que moveu a arma em um arco, já mirando meu flanco, sem me dar tempo para reagir. Saltei para trás, fugindo do alcance do golpe. O orc deu um passo para frente e subiu com o cabo da arma, tentando me atingir com a ponta. Abaixei a cabeça, me esquivando, e finalmente pude golpeá-lo. Acertei seu flanco direito, um palmo abaixo da axila. O orc grunhiu, soltando o ar dos pulmões. Rolei para suas costas e acertei um chute na parte de trás do seu joelho direito, fazendo-o perder o equilíbrio. Empurrei-o para o chão, separando-o de seu machado.

Não consegui, entretanto, acertar-lhe mais uma vez. Outros dois orcs investiram em minha direção, com lanças. Aproveitei a fumaça e corri, afastando-me do pelotão. Entrei na mata, ouvindo mais duas explosões. A gritaria e a confusão entre os orcs não me deixava ouvir mais muita coisa. Corri pela floresta por quase uma hora, até que, em uma clareira, encontrei meus companheiros.

Elias tinha ainda o virote de besta cravado em seu ombro. Sangrava muito, mas ele era um homem de grande porte, e eu sabia que sobreviveria. Bart estava ao seu lado, com a espada em punho, guardando o perímetro. Levy jazia sentado, municiando sua besta de repetição. John, de pé, finalizava os nós nas cordas que prendiam um orc desacordado.

Tínhamos agora um prisioneiro, e, eu soube mais tarde, isso faria toda a diferença.

Nos pusemos em marcha de volta para Arlia. As defesas da cidade precisavam ser preparadas. A guerra chegaria aos seus muros mais cedo que eu imaginava.

Continua...