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sábado, 26 de fevereiro de 2011

Aprendiz de Ferreiro - Capítulo 2



Olá pessoal!

Novamente, com minha série midseason. Espero que gostem. Hoje não tem desenhos ou imagens novas, porque eu estou preparando um especial para o próximo capítulo. Aguardem um pouquinho que eu acho que vai ser legal!

Sem mais delongas, fiquem com o capítulo 2!

Um grande abraço e até a próxima batalha!

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A garota se chamava Adrianna. Eu e meu irmão elfo havíamos acabado de afugentar uma criatura simiesca e feroz que tinha encurralado a menina em uma clareira na mata. Caminhei até a jovem, que mal conseguia ficar de pé, tamanho o seu medo e, com a mão livre, ajudei-a a se levantar.

Foi então que meu irmão resolveu se aproveitar do meu travamento frente aos membros do sexo oposto para se divertir naquela tarde, logo após a luta contra a criatura.

-Ó bela donzela, contemple o seu salvador - bradou Alef enquanto fazia movimentos com as mãos no ar, me lembrando um menestrel.

Apontou então para mim, segurando meu braço da espada pelo pulso e o erguendo. Na hora fiquei tão sem jeito que nem reagi.

-Darian de Ibelin! Seu salvador ao seu dispor, nobre donzela!

Continuei calado e como que petrificado. Não nasci com o dom de manter meia dúzia de palavras com o sexo oposto. Simplesmente não possuo a naturalidade de conversar com elas e conquistá-las. Até penso em coisas interessantes de se dizer, mas... travo. Simples assim.

A jovem abriu um sorriso. Dias depois me confessou que achou hilárias as cabriolagens de meu irmão, em contraste com a minha expressão de estátua. Logo depois de sorrir, a menina atirou-se em meus braços e fui obrigado a abraçá-la para não deixar que caísse. Meu irmão, imediatamente, deu a volta, ficando de frente pra mim, uns dois metros atrás da garota. Eu tenho vontade de matá-lo até hoje, por causa das expressões e gestos embaraçosos que ele fez.

Depois que a jovem conseguiu se recompor, já não necessitando mais de meu auxílio para ficar de pé, perguntamos a ela seu nome, de onde era, o que fazia por aquelas bandas e se estava ferida.

-Me chamo Adrianna Thorn. Sou filha de Cletus Thorn, o ferreiro da cidade de Arlia. Estamos sendo constantemente atacados por orcs... é terrível... eu decidi, sozinha, ir buscar ajuda, mas não consegui ir muito longe. fui atacada por aquela criatura que vocês espantaram. Obrigada... eu estaria morta não fosse por vocês.

Ela falou tudo aquilo rápido demais. Então Arlia estava sendo atacada por orcs. Fazia sentido agora uma parte de nossa viagem. "A milícia de Arlia está tendo problemas. Estão com muitas armas e armaduras danificadas" dissera meu pai. Perguntei-me se ele já sabia do que estava se passando. A jovem decidira buscar ajuda sozinha... o que poderia estar havendo para que Arlia não estivesse mandando mensageiros aos quatro ventos em busca de auxílio... a não ser que eles estivessem sendo seguidos e mortos ou capturados.

Nos apresentamos, Alef e eu, e nos oferecemos para levá-la de volta para Arlia. Quando voltamos à carroça, agora com Adrianna sentada entre meu irmão e eu, na boléia, dei velocidade à nossa viagem. Queria chegar logo e ver em que estado se encontrava a cidade. Uma idéia começava a se delinear na minha mente, mas eu não havia dado à ela todos os contornos.

Depois de mais algumas poucas horas de viagem fomos todos capazes de divisar a cidade no horizonte. Arlia era uma cidade quase do tamanho de Ibelin, mas muito menos protegida. Sua muralha estava danificada e, sendo a cidade na forma de uma letra "L", apenas a perna mais curta era guardada pelos muros. A maior parte da cidade contava apenas com paliçadas em pontos esparsos. Os soldados que faziam guarda em uma das entradas de Arlia estavam abatidos, em nada lembravam a imponência dos guardas de minha cidade. Quando passamos por eles, pareceram reconhecer Adrianna, espantados. Acho que não acreditavam que ela sobreviveria.

Adentramos a praça principal da cidade. O cenário era aterrador. Pedintes e feridos se arrastavam pelas ruas. Soldados se mostravam em estado de tensão máxima, mas pouco armados e com peças de armaduras mal cuidadas. Estacionei a carroça ao lado da casa de pedra onde o ferreiro local se instalara.

Descemos e adentramos o local, sendo recebidos por uma senhora aos prantos. Abraçou Adrianna e não parou de chorar por um bom tempo. Aquela era Arlanna Thorn, sua mãe. Cletus, o ferreiro, se adiantou e nos agradeceu por ter trazido a menina de volta para casa. Nos ofereceram um jantar, ao qual Alef não pensou duas vezes em aceitar.

Durante o jantar, fomos informados do que estava acontecendo. Cletus disse que, aproximadamente, de quinze em quinze dias, a cidade era alvo dos ataques de uma tropa de orcs. Achei estranho orcs tão organizados assim, em Sépala. É verdade que, nas ilhas do leste, os orcs são tão organizados que possuem um território próprio e um reino reconhecido, mas sempre achei que os outros orcs eram selvagens e errantes. Mais uma coisa que eu aprenderia da forma mais difícil.

-Então rapazes, é isso. Faz meses que estamos sendo atacados. Nossos mensageiros são mortos nos arredores. Os orcs estão minguando nossas forças cada vez mais e, para ser honesto, não acredito que resistiremos à próxima investida.

O senhor Cletus era um homem forte, alto, tinha os cabelos ruivos e o olho verde. Não possuía o olho esquerdo, tendo no lugar dele uma cicatriz originária de um corte que se iniciou próximo do seu couro cabeludo e o rasgou até o queixo. Me pareceu estranho um homem imponente daqueles ter tanto medo em sua voz.

Tínhamos que fazer alguma coisa. Olhei para Alef e ele tinha uma expressão séria em seu rosto. No seu íntimo concordava comigo.

-Senhor Cletus, vim mandado por meu pai, Bastian Ennabar. Devo levar as armaduras e armas para minha cidade, para serem consertadas o mais rápido possível. Além disso, preciso de aproximadamente cinquenta quilos de ferro bruto.

Ele me olhou e assentiu, agradecido.

-Outra coisa senhor, quando será o próximo ataque?

Cletus franziu a testa por um momento antes de responder.

-Daqui a quatorze dias.

Assenti.

-Entendo. Bom, são dois dias para ir, dois dias para voltar. Mais dois dias para os reparos. Sobram-nos oito dias.

Ergui-me.

-Senhor, eu e Alef partiremos imediatamente. Faremos os reparos o mais rápido possível e retornaremos com auxílio de parte da guarda de Ibelin. Arlia sempre foi uma cidade aliada, não deixaremos que nada de mal lhes aconteça. Por favor, enquanto estivermos fora, providencie para que mais paliçadas sejam construídas. E estoque óleo. Talvez eu tenha um plano.

Nos retiramos da cabana do homem, que pareceu um tanto quanto confuso por um instante. Acho que é assim que as pessoas sem esperança ficam quando uma fagulha lhes é acesa novamente. Ficou parados apenas alguns segundos antes de assentir. Eu sabia, dentro de mim, que podíamos salvar aquela cidade. Teríamos apenas que ser rápidos.

-Então você resolveu ser herói agora, Darian? Sabe, eu sempre achei que isso combinaria mais com você do que os bastidores.

Alef sorriu enquanto subia na carroça, agora carregada com os equipamentos danificados da milícia de Arlia, bem como com mais de sessenta quilos de ferro.

Olhei para ele enquanto subia. Sorri.

-Nunca pensei em ser herói, Alef, mas essa cidade precisa de heróis. Então, enquanto eles não aparecem, nós vamos ter que bastar!

Acelerei a carroça como nunca antes havia feito. Era como se tropas orcs estivessem em nosso encalço.

Mal sabia eu que realmente estavam.

Continua...

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Rotinas de Aprendiz



Olá pessoal!

Em primeiro lugar: Finalizei inFamous!!! Caraca, que história genial! Achei muito boa, bem construída e irada! O carinho pelo jogo, pelo personagem principal e pelos coadjuvantes cresceu muito! O ódio pelo vilão tornou-se gigante! E, no fim, a vontade de jogar inFamous 2 surgiu arrebatadora! Tomara que seja tão bom ou melhor que o primeiro!!!



A Sucker Punch, empresa responsável pelo jogo, já liberou algumas imagens, vídeos de gameplay e novidades, principalmente sobre o sistema de escolhas morais. Antes, Cole pensava sobre suas opções, em determinados momentos. Agora duas NPC's darão uma de "anjinho e diabinho nos ombros", tentando levar o herói para o bom ou para o mau caminho. Deve ser irado!



Os leitores devem ter reparado que agora o banner do blog mudou (evoluiu, eu diria!). Esse era o projeto, desde o início do ano, quando o blog foi idealizado. Mas, como ainda não estava pronto, resolvi colocar o blog no ar de qualquer forma, para dar início aos "trabalhos" de 2011.

Tenho que agradecer de forma gigante ao Rafero Oliveira, um de meus Melhores Amigos, rival pessoal e blogueiro à frente do Sub Ghadernal! Foi dele a maior parte do trabalho, afinal!

A idéia veio com o nome do blog. As "Crônicas de um Guerreiro Aprendiz" teriam como símbolo um... ahn... guerreiro aprendiz! Estava eu no meu quarto da casa de Angra quando vi um concept art do jogo Drakengard 2, para PS2. Achei a imagem foda, dois aprendizes de uma ordem de cavaleiros, irado!



Inspirei-me totalmente no concept para criar a roupagem do meu guerreiro aprendiz. Ele também teria que ter uma certa referência ao autor que vos escreve, logo eu coloquei nele um cabelo ruim e idealizei-o com a pele morena.



Para dar a idéia de que, apesar de um simples aprendiz, ele teria um futuro de valor e o talento dentro de si, construí da idéia de sua sombra na parede refletir um cavaleiro de armadura, imponente sendo, ao mesmo tempo, um guia e guarda do aprendiz, assim como seu próprio futuro. Dessa forma surgiu a figura.

Faltava agora colorir e arte finalizar. Foi então que meu grande camarada Rafero veio em meu auxílio. Mandei o original digitalizado pra ele, e o cara me manda não um trabalho pronto, mas TRÊS (tudo bem que um foi zuado né Rafero, rsrsrs)!!!

Curtam então os resultados abaixo (inclusive as versões zuadas).


































































Rafero, muito obrigado cara. É muito bom poder contar com um companheiro de batalhas como você! Depois a gente faz uma postagem com o seu depoimento sobre chorar sangue e idealizar o guerreiro sem calças!

Abraços a todos e até a próxima batalha!!

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Aprendiz de Ferreiro - Capítulo 1



Olá Pessoal!

Cá estou eu, de novo e como prometido, para mais um capítulo dessa que está sendo a minha produção literária "Midseason" do momento! Hoje me aprofundando nas raízes familiares do protagonista, bem como apresentando mais um personagem importante para a história.

Gostaria de apontar duas coisas, sobre as imagens dos personagens em questão. A primeira é sobre Bastian, pai do protagonista. Ele foi inspirado no Gouken, mestre do Ryu e do Ken, do jogo Street Fighter (Ok, eu sei que quase todo mundo sabe quem são Ryu e Ken, mas eu tenho que explicar, de qualquer forma).



Já o irmão em questão era o personagem de outro jogador da mesa. Completamente baseado no Ezio, de Assassin's Creed II (na época o jogador estava totalmente viciado no game). Sua personalidade já é totalmente diferente da do protagonista, mas isso vai ficando claro à medida que a história vai avançando. Eu acho muito maneiro isso de, na aventura, ter como companheiro de mesa um personagem bem diferente. Surgem várias paradas interessantes, ao meu ver. Melhor do que uma mesa com todo mundo igual.



Um adendo: os nomes dos irmãos mais velhos e da mãe de Darian foram uma homenagem ao livro "A Batalha do Apocalipse" de Eduardo Spohr. Como RPG não tem direitos autorais, eu escolhi esses nomes para a família do personagem (quando eu criei Darian tinha acabado de ler o livro). Resolvi manter a homenagem aqui.

Enfim, fiquem agora com o conto!

Um grande abraço e até a próxima batalha!

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Normalmente o sétimo dia da semana é meu dia de folga. Daquela vez não foi. Meu pai tinha me incumbido de viajar até a cidade de Arlia, para buscar as armas e armaduras danificadas da milícia local para serem consertadas. Além disso, ele me entregou uma sacola com cem brennans de ouro, para comprar algumas arrobas de ferro bruto, material para os reparos.

Acordei cedo, como sempre. Me lavei ao lado do poço e vesti minhas roupas. Por cima da camisa, minha loriga de couro. No cinto, a pistola de pólvora negra. Caminhei até o estábulo, indo até a carroça, que já estava preparada para a viagem. Na boléia, sob o local onde ficariam os pés do auriga, deitei a espada de madeira. Tinha um certo mau pressentimento sobre aquela viagem, mas não sabia dizer exatamente o que era. Talvez fosse nervosismo por ser minha primeira viagem sozinho.

Já ia conduzindo a carroça quando percebi que meu pai me esperava na porteira de nossa propriedade. Ele tinha um aspecto severo. Era bem alto e seus músculos, devido ao ofício de ferreiro, eram grandes e potentes. Tinha orgulho do meu pai e sempre achei que ele sabia disso. Em parte, minha vontade de superá-lo na forja era nada mais que o desejo de um filho de ser digno do orgulho de seu pai.

-Cuidado na estrada filho. Apesar de ser um caminho seguro tenho escutado notícias sobre salteadores. Penso que você deveria levar seu irmão.

Estaquei. Por um momento franzi a testa, tenho certeza. A perspectiva de levar meu "irmão" nessa viagem era, no mínimo, intrigante. Explico. Minha família foi formada quando meu pai, Bastian, desposou minha mãe, Ishtar. Juntos eles tiveram cinco filhos. Minha irmã mais velha, Sieme, casou-se com um nobre de Alancar e mudou-se para lá. Meu irmão mais velho, Hazai, alistou-se cedo no exército do reino, tornando-se um capitão de Britannia. Meus irmãos mais novos eram dois gêmeos, Yan e Sarkan. Muito inteligentes, apesar da pouca idade, estavam estudando sob a tutela de meu antigo mentor, Robert Braunwald.

No entanto, meu pai não se referia a nenhum desses irmãos. Cinco anos antes daquele dia, surgira em Ibelin um jovem elfo desgarrado. Foi capturado pela guarda da cidade praticando furtos. Na época estava bastante emagrecido e bastante fraco. Por algum motivo, na época pensei em piedade, meu pai tomou o jovem elfo sob sua tutela. Tempos depois vi que não foi pena. Meu velho tinha um bom olho para perceber o potencial das pessoas. Ele viu, naquele elfo, uma pessoa de valor e o agregou a família. Anos depois eu já o chamava de irmão, e ele, em nossa casa, era tratado como tal.

Só que ele era um pouco... indisciplinado, seria a melhor palavra. Dedicava-se como poucos aos seus estudos e práticas de suas habilidades. Conseguia ser furtivo como ninguém, além de ter uma habilidade inata com fechaduras e armadilhas. Tinha também uma mira excelente, arremessando facas e adagas com precisão absurda.

Ele só tinha um fraco, eu diria, pelo sexo oposto. Em cinco anos eu perdi a conta dos pequenos escândalos que meu irmão arrumou com as filhas de nobres, plebéias, serviçais, viajantes e todo o tipo de mulheres que eu consigo lembrar e nomear. Por vezes maridos traídos e jovens apaixonados tentaram esganar meu irmão. Todas as vezes eu me envolvi, defendendo-o. Consegui com isso uma costela quebrada quando ele se engraçou com a filha do taverneiro, um militar veterano aposentado.

E agora ele viajaria comigo. Talvez meu pressentimento fosse isso, afinal. Abri um sorriso. Ele arrumava das suas, mas a verdade era que gostava bastante de sua companhia e de seu humor despreocupado. Foi sem surpresa alguma que notei que ele já aguardava próximo à porteira, sentado sobre uma árvore. Eu não o tinha notado antes e, provavelmente, o notara agora porque ele assim quisera. Ele realmente era bom nisso de passar desapercebido.

Ele desceu da árvore com agilidade e caminhou a largos passos até sentar-se ao meu lado no coche. Com um largo sorriso no rosto, puxou seu capuz para trás, expondo a face. Tinha traços longilíneos e um nariz reto. Cabelos e olhos negros, além das tão características orelhas pontudas élficas. Trajava roupas brancas e vermelhas, com botas pretas. Facilmente reconhecível, ele sempre dizia.

-Então irmãozinho, - ele disse - o pai diz que você precisa de uma ajudinha na viagem. Cá estou eu, seus problemas já não existem mais.

Puxou então o capuz cobrindo o rosto até deixar apenas a boca exposta.

-Logo, guie suavemente sim, pois eu preciso de um pouco de descanso - falou, se recostando no banco.

Não pude deixar de sorrir com o canto dos lábios. Esse era Alef, meu irmão elfo. Sempre irreverente.

Fiz um aceno de cabeça para meu pai e conduzi a carroça até a estrada. O cavalo era um robusto garanhão de carga marrom e atravessava sem problemas a estrada irregular e enlameada em alguns pontos. Havia chovido há um ou dois dias atrás e alguns atoleiros traiçoeiros poderiam atrasar nossa viagem, então eu estava bastante atento à estrada.

Talvez tenha sido essa atenção por causa da chuva que tudo aquilo aconteceu. Passávamos por um trecho da estrada que cortava uma floresta não muito densa. Entre as árvores o mato cobria os tornozelos. As árvores frondosas tinham as folhas alaranjadas, denunciando o início do outono. Alef lia um pesado livro com capa de couro curtido e tinha a expressão compenetrada. Eu prestava atenção nos atoleiros e nos barulhos da mata, enquanto o Sol se aproximava do poente, tão laranja no firmamento quanto as folhas das árvores.

Foi então que ouvi um grito de mulher, vindo de dentro da mata. Olhei imediatamente para Alef, mas ele não parecia ter notado. Cutuquei-o com o cotovelo, tirando-o de seu estado concentrado. Foi então que um segundo grito se fez ouvir. Um grito de socorro. Descemos da carroça com um salto. Alef seguiu na frente, mais rápido que eu. Empunhei a espada de madeira e o segui de perto.

Corremos por entre as árvores e chegamos até uma clareira na mata. Ali uma jovem de uns dezesseis ou dezessete anos era encurralada contra um grande carvalho. Ameaçando-a, um animal que eu nunca antes havia visto naquelas paragens. Tinha aproximadamente dois metros de altura. Era humanóide, com o corpo coberto de espessa pelagem castanha. Os dentes eram grandes presas e suas mãos eram grandes de forma algo desproporcional, assim como seus braços, o que fazia que o ser andasse de quatro e ainda assim fosse mais alto que eu ou Alef.

-Ei, seu gorilão, vem pegar alguém do seu tamanho!

Era Alef bradando em alto e bom som. Até hoje acho que ele só fez isso para chamar a atenção da garota e não da criatura. Logo depois de berrar, meu irmão lançou uma adaga curta em direção a coxa do bicho, que urrou de dor, seu sangue escuro e espesso manchando o mato.

-Obrigado por estragar o elemento surpresa!!!

E, com esse grito de guerra não usual, parti para cima da criatura, empunhando a espada com as duas mãos. Girei a espada em um golpe horizontal que acertou a criatura bem no meio do tórax. Ouvi um barulho similar a um galho grosso se quebrando, e a criatura novamente urrou, agitando os braços compridos. Me interpus entre o golpe e a menina, aparando-o com a espada. Sorri quando percebi que a madeira tolerou o golpe sem lascar.

O animal, ainda urrando, fugiu pela mata, deixando um pequeno rastro sanguinolento. Alef se aproximou de mim, com um sorriso enorme no rosto, seu capuz abaixado. Olhou atentamente para a donzela que havíamos acabado de salvar. Era uma jovem de cabelos ruivos, olhos verdes e a pele branca com sardas esparsas nas maças do rosto e... bem... no espaço visível pelo decote de seu vestido azul-claro. Era bonita, e, nesse momento, eu previ mais um dos pequenos escândalos envolvendo meu irmão.

Eu não podia estar mais enganado. Aquela jovem iria ter um papel importante no meu futuro.

Continua...

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Aprendiz de Ferreiro - Prólogo



Olá pessoal!

Pra não perder o costume, cá estou eu novamente, com mais um pouquinho de produção literária. Esse conto é mais um dos projetos para o ano de 2011 e é baseado em uma aventura que rpg que eu estou jogando (Isso! JOGANDO! Não mestrando!). O personagem foi inspirado no personagem principal do filme Cruzada (Kingdom of Heaven, no original, aquele, com o Orlando Bloom... é, o filme bem que podia ser um pouco melhor, mas eu gostei, admito).



A aparência do personagem foi baseada no Albus, do jogo Castlevania: Order of Eclesia. Achei o concept art irado, e combinava com um personagem mais aristocrático, além de portar uma pistola de pólvora tiro-a-tiro. Depois desenhei o personagem tendo como referência a imagem abaixo, fazendo algumas alterações, mas tentando manter o mesmo estilo.



Foi assim que surgiu Darian de Ibelin (cliquem na imagem para ver em melhor resolução), o aprendiz de ferreiro com o qual eu estou me divertindo no momento, participando de grandes aventuras e rolando meus bons e velhos D6! Espero que gostem da história!



Um grande abraço e até a próxima batalha!

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Eu nasci no ano de 1486 depois do Cataclisma. Minha avó, mãe do meu pai, me contava histórias sobre a última aliança entre as cinco grandes raças. Os magos tentaram driblar a morte, ela contava, e o Deus da Morte ficou bravo. Lançou sobre o mundo três pragas. A maior delas era um gigantesco dragão, que nenhum herói conseguia derrotar. Foi então que cinco aventureiros, oriundos de regiões e raças diversas, empreenderam uma busca por um modo de derrotar a besta. Minha avó sempre me contava essa história.

No final, ela dizia, os heróis conseguiram derrotar o monstro, à custa de suas próprias vidas. O dragão caiu bem no meio do Grande Oceano, abrindo um gigantesco buraco. Minha avó diz que até hoje esse local é um local de mau agouro. Bem, não que isso faça muita diferença pra mim.

Me chamo Darian Ennabar e moro em uma cidade do interior de Brittania. Quando os humanos se espalharam pelos continentes, 1800 anos antes do cataclisma, eles se dividiram em cinco reinos. Em Sépala, continente onde fica Britannia, existem mais dois reinos. Franca, outro reino humano e, na cordilheira de montanhas no extremo norte, Korkhazad, o reino dos anões.

Ibelin é uma cidade pequena, mas próspera. Fundada poucos anos depois da capital, se situa a apenas dez dias de cavalgada em boa marcha. A cidade é cercada por um muro de pedras de seis metros de altura e quatro metros de espessura. Temos três centenas de cavaleiros bem equipados e experientes, e uma infantaria que conta com pouco mais de quatro mil guerreiros, mil lanceiros e quinhentos homens de achas. Nosso corpo de arqueiros conta com uma milha.

Mas o que eu sempre admirei mais, no exército de Ibelin, é o nosso corpo de artilheiros. Pouco mais de vinte anos atrás o alquimista da cidade voltou de sua peregrinação pelos continentes trazendo um grande avanço bélico: armas de pólvora negra. O prefeito e o general de brigada ficaram empolgados com a idéia e encomendaram a confecção de cinco centenas de fuzis e cinco centenas de pistolas. Um grupo de elite foi formado e, graças a esse grupo, a cidade rechaçou duas invasões de orcs selvagens e uma rebelião armada.

Não, eu não sou nenhum tipo de guerreiro, apesar de admirá-los bastante. Meu pai, Bastian Ennabar, é um dos cinco maiores ferreiros do mundo. Desenvolveu a técnica das Runas Balísticas, que permitem que efeitos alquímicos sejam impregnados em armas e armaduras, tornando-lhes especiais. Sempre me perguntei por que ele decidiu morar em uma cidade do interior, ao invés de em uma grande capital. Ele sempre me disse que foi para ser menos incomodado.

Quando eu completei quinze anos, meu pai deixou que eu começasse a acompanhar seu trabalho na forja. Ensinou-me a trabalhar couro e madeira, dizendo que eram os primeiros passos antes de trabalhar com metal. Com dezesseis anos eu tinha confeccionado minha primeira Loriga de Couro. Ficou um pouco melhor que as comuns e meu pai me elogiou, dizendo que eu tinha um talento nato para o ramo. Depois ele me colocou pra fazer uma dúzia de trabalhos difíceis, dizendo que eu deveria enfrentar dificuldades ou começaria a perder a humildade. Depois de inúmeros erros e insucessos, compreendi o que ele queria dizer.

Aos dezesseis dei forma à minha primeira espada de madeira. Tinha viajado com meu pai a uma cidade vizinha, para buscar suprimentos e especiarias para a forja. Temelkar era uma cidade costeira, e, na praia, um velho galeão jazia encalhado. Encantado, caminhei até os restos do imponente navio, me deparando com uma robusta ripa de carvalho escuro. Levei a peça de madeira para casa e trabalhei-a por meses, até conseguir uma boa espada longa. Guardei-a embaixo da cama, pois meu pai não aprovava muito minha atenção demasiada às artes de combate.

Um mês depois, confeccionei um broquel de olmo e bronze. Foi difícil conseguir a forma arredondada da madeira. Guardei-o embaixo da cama, juntamente com a espada. Meu velho continuava a desaprovar esse meu fascínio pelas batalhas. Comecei a freqüentar tavernas, à noite, e escutar as histórias dos veteranos de guerra e dos bardos. Passava horas à ouví-los, viajando, totalmente fora de minha realidade.

Foi numa dessas idas à taverna que conheci Simmos, o velho alquimista da cidade. Conversamos por bastante tempo. Eu estava muito admirado pela quantidade de conhecimento que ele demonstrava, sem ser arrogante. Noites depois, encontrei-o na mesma taverna, e ele deu-me um presente: um Codex, um livro onde os alquimistas anotam suas poções. Nesse livro estavam escritas quase uma dúzia de poções para iniciantes, além de conter esquemas para a confecção de pistolas de pólvora negra. Gastei quase um ano tentando, e finalmente consegui montar um modelo flintlock.51. Escondido, claro.

Assim que completei dezessete anos, meu pai me empregou como efetivo na forja. Deu-me mais responsabilidades, fazendo com que fosse bastante difícil continuar a estudar alquimia. Continuei praticando, todos os dias pela manhã, a esgrima e a artilharia, não me sobrando muito mais tempo para outras coisas. Minha vida tornou-se rotina. Acordava antes do Astro-rei nascer e praticava exercícios para o corpo. Estudava esgrima e artilharia. Quando o Sol nascia, tomava meu desjejum e ia para o trabalho na forja. Quando o Sol se punha, voltava para casa, cansado. Tomava um bom banho e jantava. Estudava um pouco nos livros e dormia em uma confortável cama de penas.

Eu gostava dessa rotina. Minhas habilidades estavam melhorando e eu almejava, um dia, superar meu pai na arte de forjar. Eu tinha uma vida simples, admito, mas era boa. Eu ouvia histórias de grandes feitos de heroísmo, conquistas em guerra e coisas assim, mas nunca, de verdade, quis ter meu nome nelas. Costumava pensar que todos esses heróis e personagens de histórias utilizavam grandes armas e armaduras, e algum ferreiro habilidoso as havia confeccionado. Eu sempre quis ser um desses ferreiros.

Engraçado como a vida às vezes toma rumos que nunca imaginamos.

Aquela semana estava quase no final. Mais um dia de forja tinha terminado, e eu me preparava para tomar um banho e dormir. Meu velho me chamou até a forja e me mostrou um conjunto de rédeas e equipamentos para atrelar um cavalo a uma carroça.

-Filho, amanhã você viaja para Arlia. Recebi uma mensagem de que a milícia de lá precisa de reparos em armaduras e armamentos. Quero que você vá buscá-los. Compre também, com o ferreiro local, cinco arrobas de ferro bruto, para os reparos. Tome aqui os brennans necessários.

Peguei a sacola que tilintava. Deveria haver ali talvez uns cem brennans de ouro. Era, sem dúvida, a maior quantidade de dinheiro que eu havia segurado de uma só vez em minhas mãos. Assenti com a cabeça, e fui tomar meu banho. Nem imaginava que aquela viagem seria o primeiro passo para um mundo de mudanças em minha rotina.

Continua...

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Histórias da Taverna



Olá pessoal!

Cá estou eu para mais uma postagem nesse novo espaço. O guerreiro vai dando um passo após o outro, e ganhando alguns pontos de experiência, umas peças de cobre, essas coisas. Quem acompanhava meu antigo blog deve se lembrar de uma seção onde eu abria espaço para colaboradores. Esse espaço, aqui, será intitulado "Histórias da Taverna", bem no clima de aventura de RPG medieval onde os players SEMPRE acabavam na taverna, ouvindo as histórias do velho louco. Vou inaugurar com um conto de minha autoria, mas, posteriormente, estarão aqui histórias de colaboradores, se tudo correr bem.

Movido pelo espírito de treinamento e evolução, resolvi resgatar algo do meu passado (na verdade, uma das coisas mais maneiras do meu passado e que será uma parada muito maneira no meu futuro) e criar um pouco com isso. Assim surgiu esse pequeno Spin Off. Alguns leitores vão reconhecer esse tão querido personagem. Outros ficarão sem saber muita coisa. Mas, prometo, mais pra frente, durante esse ano de 2011, você conhecerão mais sobre ele e muitos outros.

Um grande abraço para todos, fiquem com a história do velho louco, e até a próxima batalha!

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Nove anos. Essa era a idade do jovem que corria pela trilha bem cuidada que cortava um pequeno bosque. Pequeno para os outros mas para o garoto era um mundo. Era talvez a vigésima vez que fugia da biblioteca que havia na mansão onde morava e desatava a brincar entre as folhas. Odiava, com toda a força que uma criança consegue reunir para isso, aquele lugar enclausurado e com cheiro de livros velhos.

Não conhecia seu pai. Nunca o vira. Sua mãe era uma mulher de nobreza, filha de um casal de ricos senhores de terras. O garoto era um bastardo. Amava isso. Nobres e comerciantes estão presos aos destinos de suas castas. Via seus parentes sendo obrigados a seguir o protocolo, a usar todos aqueles inúmeros talheres nos jantares, vestir as roupas cheias de babados e ficarem sentados durante aquelas horas que pareciam não passar nas audiências. Um bastardo era livre. Mesmo que sua mãe quisesse que ele vivesse os livros.

Galdar, o mago que servia a família, o perseguia, ao longe. Velho como estava, o elfo já não tinha o vigor necessário para acompanhar o moleque. Sua mãe insistia que o jovem se tornasse um mago, uma posição respeitada dentro do reino, alcançada apenas através de muito estudo e dedicação.

O garoto já vira vários magos na cidade. Magos em sua família. Sujeitos imponentes, é verdade, mas tão... rígidos. Tão chatos, pra falar a verdade. Enfurnados em seus robes, carregando seus cajados. Sérios. Enclausurados em suas bibliotecas e academias. Chato, chato, chato.

O garotinho correu por mais alguns metros bosque adentro, até chegar ao seu local predileto, o velho cedro. Alto como uma montanha e largo como uma colina, o garoto adorava escalá-lo. Seus galhos mais baixos se curvavam quase até tocar o chão, facilitando em muito a vida da criança. Subiu pelos galhos até chegar na metade da árvore. Era o máximo que conseguia. Dali em diante, sempre tentava subir mais um galho, mas não conseguia.

Aconchegou-se em um dos ramos mais largos e tirou do bolso a pedra vermelha que tanto o perturbava. Tinha visto a gema na biblioteca quando, noites atrás, sua mãe a guardara em um cofre disfarçado de livro, pensando que ninguém a vira. Nessa época, o rapazote já tinha a capacidade de se mover fora das vistas das pessoas. Quando chegou até o cofre, não sabia a combinação, mas foi só tocá-lo que ele se abriu. A criança pegou a pedra e correu, sendo perseguido pelo velho elfo.

A gema parecia-lhe preciosa. Era uma esfera perfeita, brilhante e vermelha como sangue ou fogo, ainda não tinha se decidido. E era quente ao toque. Lembrava-lhe o calor da lareira ou algo assim, lhe confortava. Por que teria sua mãe escondido a jóia dessa forma?

Isso, devia ser uma jóia valiosa, e sua mãe a estava protegendo. Droga, Galdar estava quase chegando. Teria de acompanhá-lo de volta aos livros. Não que tivesse muita escolha, pois o velho mago usaria um de seus truques para fazer o vento carregar o garoto da altitude da árvore até o solo em segurança. Dali, uma bronca enorme de sua mãe.

Foi então que a rotina de sempre foi quebrada. Três figuras mascaradas surgiram por entre as árvores. Uma delas carregava uma garrafa de vidro com um pano saindo do bocal, enquanto os outros dois carregavam facas de caça. Pego de surpresa, o velho mago foi ferido na perna e caiu, contorcendo-se de dor. O mascarado com a garrafa tacou-a no velho cedro, iniciando um incêndio.

O garotinho se desesperou por um instante e quase caiu da árvore. Enfrentava um dilema perverso. Mantinha-se longe do solo e seria queimado pelas labaredas, cada vez mais altas, ou caía de uma altura da qual certamente teria as pernas e algumas costelas quebradas. Não conseguia, de forma alguma, se decidir.

Ouvia as gargalhadas dos mascarados. Um deles chutou o velho Galdar na lateral do tronco e na cabeça, deixando-o inconsciente. Os outros dois gritavam pra ele. Xingavam-no. Bastardinho, filhote de elite. Mestiço. O rapaz não entendia muito bem o que queriam dizer.

Quis chorar. Quis gritar por socorro, chamar sua mãe. Mas eles iriam rir mais, sabia. Olhou para os lados procurando uma saída. As chamas estavam se aproximando cada vez mais. Sentiu medo, muito medo. A fumaça era tão densa que não mais via os mascarados, apenas ouvia suas vozes, seus gritos, suas gargalhadas.

A primeira labareda tocou-lhe o braço direito. O garoto gritou, mais de susto que pela dor, propriamente dita. Outras línguas de fogo vieram se juntar à primeira, engolfando a criança por completo. Gritou com toda a força de seus pulmões e caiu sem controle, atingindo o solo como um galho partido.

Os mascarados mal tiveram tempo de reagir quando dois feixes de chamas se projetaram da massa flamejante que era o garoto e atingiram em cheio o peito do homem que, momentos antes, tinha atirado a garrafa. Outra língua de fogo se projetou, varrendo pelas pernas um dos mascarados, que deixou sua faca cair no chão. O terceiro começou a correr em desespero, mas foi engolido pela terceira projeção ígnea, que se esticou como um tentáculo e o envolveu, carbonizando-o.

As chamas se extinguiram. Todas. O velho cedro estava danificado, mas iria sobreviver. O mago elfo estava ainda inconsciente, mas não havia sido tocado pelas chamas. No centro do gramado chamuscado, o garoto. Intacto e inconsciente.

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-Já é hora de contar a verdade pra ele, não acha?

Sentada na cama, a mulher afagava os cabelos do garoto, ainda inconsciente. O homem que havia proferido a pergunta estava na casa dos cinquenta ou sessenta anos. Tinha os cabelos grisalhos e vestia uma jaqueta de couro, uma camisa preta e calças de couro com botas de cano alto. Ao seu lado, um lobo. Via-se, entretanto, que não era um lobo comum. Ao seu corpo lupino somavam-se muitos músculos e uma juba, como a de um leão. Era totalmente branco e um de seus olhos havia sido arrancado por algum animal, sobrando-lhe apenas cicatrizes naquele lado da face.

-Ele ainda é muito pequeno, Vargas. Muito pequeno. Ainda não é hora dele saber tudo, por favor.

O homem assentiu.

-Talvez esteja certa, Senhora Galford. Talvez. No entanto, peço para que ceda o rapaz à minha tutoria. Ele precisa ser treinado e acho que a senhora já percebeu que ele não será um mago.

Foi a vez da mulher assentir.

-Certo Vargas. Quando ele acordar, você pode tomá-lo sob sua guarda, e treiná-lo da forma que achar melhor.

Acariciou os cabelos do rapaz mais uma vez, sorrindo-lhe com ternura.

-Meu pobre filho. Tanta coisa o aguarda.

O homem virou-se, deixando o aposento, sendo seguido pelo Meio-lobo branco.

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O garoto estava sentado, no meio da clareira onde ainda se mantinha de pé o velho cedro. Agora carente de alguns galhos e com alguns ramos enegrecidos pelo fogo, mas ainda de pé. O homem olhou-o da cabeça aos pés. Via o menino animado como nunca antes. Mandara que o rapaz abandonasse os robes que usava pra estudar magia. Precisaria de roupas mais adequadas no treinamento ao ar livre.

O garotinho usava calças de um tecido que não conhecia, mas era grosso como couro, mas fosco, e azulado. Uma camisa branca de algodão e uma jaqueta de couro preta. Era um pouco grande para ele, por isso o menino dobrou as mangas da jaqueta até os cotovelos. Calçava sapatos de couro, com placas pesadas de ferro nos peitos dos pés, o que o fazia se sentir um tanto pesado e desajeitado. E calçava luvas pesadas de couro preto, com placas de ferro no dorso das mãos, igualmente pesadas.

Ao redor do pescoço, um cordão de ferro frio, com um pingente. A jóia vermelha. Sua mãe lhe dera o colar pouco antes de enviá-lo ao bosque. Pouco antes de lhe dizer que seria treinado por Vargas.

Sorria, animado. E foi com um sorriso no rosto que ouviu aquelas palavras saírem dos lábios de seu novo mentor. Aquelas palavras que iriam mudar sua vida para sempre.

-Kenneth Galford, está na hora do seu treinamento começar.


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PS: Este é Kenneth Galford, personagem que eu joguei durante bastante tempo em minha mais saudosa mesa de RPG, e que hoje tornou-se maior que o jogo. Na época desse desenho ele tinha 14 para 15 anos.


domingo, 6 de fevereiro de 2011

Resenha - inFamous






Olá pessoal!

Esse ano que passou eu tive um grande upgrade na minha vida financeira. Passei de totalmente sem renda à estagiário. Embora agora eu seja meia pessoa, todo final de mês (seguinte ao que deveria cair) tem um dinheirinho a mais na conta. Juntei, juntei, juntei e finalmente pude comprar meu tão sonhado video game novo (meu último video game era o Super Nintendo!).

Estava procurando jogos para comprar (que fossem bem baratos, de preferência) e encontrei inFamous. Como foi sucesso de vendas, faz parte da série Platinum, que pega esse tipo de jogo e relança numa tiragem com um preço mais acessível. Encomendei e, uma semana depois, eis que tenho em mãos o game!



Fiquei empolgado e resolvi usar o espaço pra escrever as minhas opiniões sobre ele. Ainda não o terminei por isso não sei o final, e nem darei spoilers, pra não estragar a experiência de ninguém que venha a jogar ou esteja jogando.



Logo de cara, o visual ganha vários pontos. Belos gráficos te colocam em uma cidade grande, após uma catástrofe (é a abertura do jogo, uma explosão bem ao estilo Akira). No centro dela, encontra-se Cole, o personagem principal, que, como você, não faz idéia do que está acontecendo. Achei isso ótimo, afinal, cria uma identificação imediata com sua situação. Aprendemos de imediato que Cole será os seus olhos.

Você então descobre que ele, após a explosão, adquiriu poderes elétricos e pode disparar relâmpagos pelas mãos. Ele não sabe como, mas agora tem que escolher como vai usar seus novos dons em uma cidade devastada e sem lei. Logo após a explosão, uma praga está deixando os cidadãos doentes. O governo isola Empire City (a cidade cenário do jogo, lembra um bocado Manhattan) e as gangues de rua, antes apenas traficantes, tornam-se literalmente os imperadores do local.

Nesse contexto, o jogo se inicia.

Tá ok, você pode estar pensando, então é um jogo de super-herói?

Mais ou menos. No comando de Cole, você faz suas escolhas, podendo tomar atitudes bondosas ou "questionáveis". Seja altruísta e ajude as pessoas para se tornar um herói. Pense apenas em si mesmo e no seu bem estar, e logo logo será "infame".

No melhor estilo sandbox, você é livre para percorrer as ruas e fazer quase o que bem entender, dentro das limitações da engine. Achei muito interessante o sistema de escolhas. Existem momentos-chave no jogo, onde Cole pensa consigo mesmo quais são suas opções. Logo depois, você é livre para agir, lidando com as conseqüências e seu desenrolar.



Outro ponto que achei extremamente positivo são os personagens. Cole é um protagonista cheio de personalidade. Irônico e um pouco rude, o cara às vezes fala exatamente o que você está pensando ("então você me chama de terrorista, me insulta, e agora vem pedir a minha ajuda? ah, claro, por que não..."). Hostilizado por uma sociedade que não o aceita e tendo "amigos" que, por vezes, parecem não aceitá-lo igualmente, Cole tem motivos de sobra para ser do jeito que é.

Existem ainda dois personagens marcantes: Zeke, um cara gordinho em cujo telhado está a "base de operações" de Cole. Extremamente zoeiro e um tanto quanto egoísta, ele entra em contato com o personagem durante o jogo para lhe passar algumas side quests e dicas. A outra personagem importante na história é Trish. Médica e namorada de Cole, ela o culpa pelo acontecido (não é muito complicado de pensar isso, afinal, ele estava no centro da explosão), onde perdeu a irmã. Uma relação complicada entre os dois se desenrola, tensa como um relacionamento deveria ser nessa situação.



A inteligência do jogo também se sobressai. Uma cidade viva, cheia de civis andando pelas ruas, dividindo espaço com bandidos. Os cidadãos de Empire City são bastante orgânicos e consistentes. Demonstram medo ou admiração conforme presenciam as batalhas urbanas. Fogem e se escondem, não achando natural um cara sair por aí soltando raios pelos dedos. Conforme você toma suas decisões, as atitudes da população para com você também mudam, deixando realmente uma impressão de que suas ações fazem diferença.

As quests estão divididas em Story Quests e Side Quests. Como o próprio nome diz, as primeiras movem a história central do jogo, enquanto as outras são missões pararelas. Uma coisa que achei irada é o fato de que existem side quests "good" e side quests "evil". Dependendo de suas ações prévias, você pode se engajar em uma ou outra, e cada vez que você cumpre uma quest, uma quest oposta é trancada ( por exemplo, uma quest good é para proteger um desfile na rua, enquanto a outra é para atacá-lo. Fazendo uma, a outra torna-se impossível).

Nem tudo, infelizmente, são flores. Alguns pontos na jogabilidade deixam a desejar. Alguns movimentos de escalada e saltos são muito difíceis quando sua execução parece simples (por vezes, subir dois andares e cair no andar do meio é mais fácil do que simplesmente subir um andar). Existem também alguns bugs com os cidadãos e bandidos. Em alguns momentos é como se o asfalto fosse movediço e você vê aquele cara que acabou de ser derrubado por um raio tendo suas pernas engolidas pelo chão. Alguns civis parecem não se importar com a própria vida, ficando na frente de carros e sendo atropelados, sem nenhuma reação (de repente pode nem ser um bug, e colocaram pessoas suicidas no jogo, será? rsrs).

Esses bugs existem, mas não comprometem a diversão (aliás, em alguns momentos os bugs são a diversão, rsrsrsrs).



Por fim, achei muito maneiro o fato de as cut scenes (aquelas cenas entre o jogo, que contam a história) serem feitas como uma história em quadrinhos, com efeitos especiais. Te coloca muito no clima das HQs de Heróis, como Marvel ou DC.

UFa! Ficou meio grande, rsrs.

Finalizando, estou gostando muito, até agora, de inFamous, e recomendo para todos aqueles que estejam interessados em uma boa história, bons gráficos e diversão. Espero que o final seja tão bom quanto o restante do game!

Um grande abraço à todos, e até a próxima batalha!

Fazendo outra ficha




Pra mim, 2010 foi um ano um pouco cômodo. Se você me perguntar o que eu fiz durante o ano, a resposta estará cheia de "quases". Fiquei com um blog por um tempo, joguei rpg por um tempo, desenhei por um tempo, estudei por um tempo e viajei por um tempo.

Quase escrevi os contos que queria escrever no meu blog. Quase consegui finalmente realizar uma campanha de D&D onde os players fossem do Level 1 ao 20. Quase quadrinizei as histórias que eu estava afim. Quase consegui me regrar e estudar 3 horas por dia. Quase viajei para lugares novos, indo parar apenas nos velhos conhecidos.

No final do ano passado e início deste, conversei bastante com meus amigos de infância. Em especial com o cara que eu poderia, sem esforço, dizer que é um dos meus melhores amigos, se não o melhor. E meu rival também, nos desenhos e na escrita, no contar histórias. Ele me fez ver o que estava na cara.

"Quase" é uma merda.

Então voltei pra minha base de operações aqui no Rio de Janeiro, pra mais um ano. Só que 2011 não é mais um ano. Na faculdade é meu último ano como acadêmico. Nos estudos é algo sério, se preparando para uma big prova no fim do ano. No RPG dei fim à campanha que me desapontou e uma outra está em andamento, sendo divertida e com personagens marcantes.

Óbvio que nos desenhos e na escrita 2011 também não será "mais um ano". Foi por isso que surgiu na minha mente a mudança de endereço, de roupagem, de postura.

A Pena do Samurai foi o reflexo de 2010. Cômodo. Apegado ao arquétipo de sempre, escrevendo como sempre, sequer desenhando. Aqui vai ser um pouco diferente.

O Samurai já viveu as aventuras que tinha que viver. Teve sucesso, arraigado aos seus conceitos e sua rigidez. Agora é hora de, tendo no coração seus ideais, guardar sua ficha dentro da pasta. Suas aventuras não são mais divertidas e suas habilidades não são mais aprimoradas.

Com um papel em branco na minha frente, começo a desenhar. O próximo personagem tem que ser marcante, tem que ser divertido, carregado de ideais e de uma esperança quase impulsiva e imprudente, mas com o espírito daquele ideal antigo dentro de si. Não para ser um freio, mas sim um guia de precisão, para que a velocidade não seja desperdiçada e sim otimizada.

Tem também que representar aquilo que sinto a cada evolução. Um aprendiz, aspirante à algo maior. O desenho flui. Começo a delinear sua personalidade e sua classe.

Guerreiro. Sempre. É, de fato, o que mais se encaixa comigo. Tudo é uma luta e guerreiro sempre está disposto à combater.

Assim nasce essa ficha, este novo blog, cheio de velhos ideais.

Espero que gostem.

Grande abraço e até a próxima batalha!