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domingo, 5 de junho de 2011

Aprendiz de Ferreiro - Capítulo 6



Olá pessoal!

Mais uma vez atrasado, mas tentando me acertar! Agora com uma poderosa internet de 5MB e meu scanner funcionando normalmente, tou até no clima de post com desenho!



A imagem é de Darian, após a batalha de Arlia. Notando que precisava de mais proteção, ele forjou uma armadura metálica e, além disso, uma espada de verdade.

Esse capítulo é sobre isso.

Um grande abraço e até a próxima batalha!

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Duas semanas tinham se passado desde a batalha sob os muros de Arlia.

Por mais incrível que tivesse sido meu último mês, os últimos quinze dias se mostraram um retorno enorme à rotina. Voltei para Ibelin, para os trabalhos na forja, meus treinamentos com os livros. A cada noite que se passava eu me recolhia cedo para o quarto, cansado, e olhava com certa reverência para o que sobrara da minha espada de madeira partida.

Na minha cabeça as informações mais recentes que eu recebera ao voltar para minha cidade natal se misturavam com os sentimentos daquela batalha, e do depois. Meu pai me contara porque o Corpo de Artilheiros de Ibelin não havia ido em auxílio de Arlia. Eles tinham marchado para o Sul, indo ajudar um castelo de Triannor que havia sido tomado de assalto.

Mais notícias de conflitos armados foram chegando aos meus ouvidos com o passar dos dias, e eu comecei a pensar que a minha rotina acabaria sendo quebrada mais cedo ou mais tarde. Passei a utilizar meus horários livres para trabalhar em algo que vinha inundando meus pensamentos desde o combate com o líder orc.

Eu forjaria minha primeira espada de aço.

No momento em que minha espada de madeira quebrara eu sequer tinha atentado para um detalhe que agora me perturbava. Caso eu não estivesse com a vantagem naquele campo, eu teria sido morto, pois ficara desarmado. Voltei para Ibelin com a idéia de forjar uma espada de metal em mente. Conversei com meu pai sobre isso, e ele, como sempre, não se mostrou nem contra, nem à favor, deixando a decisão toda comigo. Minha mãe, obviamente, era contra. Tinha ficado cheia de preocupações quando soube da luta em Arlia, e queria, de todo o coração, que eu ficasse na cidade e fosse um ferreiro normal.

Passei meus dias pensando no que deveria fazer. Estava acostumado a utilizar a espada com as duas mãos, então decidi por seguir essa linha. Comprei material e iniciei o trabalho da espada pelo cabo e o pomelo. A cada noite que eu passava dando forma à madeira e ao couro, sentia o pingente de Adrianna roçar em meu peito. Já não a via faz um mês, e seu rosto começava aos poucos a se apagar em minha mente, mas o calor de seus lábios e de seu hálito ainda se fazia sentir em minha boca. Ou, claro, eu podia apenas estar delirando.

Demorei quase vinte dias, mas finalmente terminei meu trabalho. Uma bela espada de duas mãos, com dois gumes afiados, e uma guarda em cruz, boa para defender os golpes que escorregariam pela lâmina e visariam meus dedos. Estava feliz novamente e passei a treinar todos os dias com ela. No início percebi a diferença do peso e vi que não era forte o suficiente para utilizá-la apropriadamente. Em uma batalha, precisaria decidir rápido, ou o cansaço me venceria.

Sequer imaginava que seria posto à prova tão cedo.

Em uma manhã chuvosa do início da semana, meu pai me pediu para ir até a casa de um conhecido seu, na floresta do leste. Material especial, ele me disse. Vesti a cota de malha, só para sentir novamente seu peso, e coloquei a espada na bainha. Mais uma vez eu estava em viagem, ainda que fosse bem curta dessa vez. Após um dia e uma noite sob o chuvisco característico da estação, eu avistei uma casa de madeira no meio de uma clareira na mata.

O senhor Carter era um homem de idade, com os cabelos brancos e uma barba aparada. Vestia-se com calças de couro curtido e camisa de algodão, e estava sentado na varanda, fumando um cachimbo. Quando me viu chegando, na carroça, abriu um largo sorriso e se levantou, vindo me receber.

- Ora vejam só, faz tempos que não tenho um visitante por aqui!

Sorri, apeando.

- Senhor Carter, não é? Eu sou Darian, filho de Bastian, de Ibelin.

Ele abriu um sorriso tão largo que o cachimbo quase caiu de sua boca.

- O velho Bastian, como ele anda? Então ele teve um filho! Quem diria... e eu achava que ele só pensava em forja e aço. Venha, vamos tomar um chá, enquanto você me conta as novidades da cidade.

E, em alguns minutos, lá estávamos nós dois, sentados na varanda, bebendo chá em uma prataria de porcelana. Qualidade muito alta para uma cabana no meio da floresta, pensei. Por talvez uma hora ele me ouviu contar sobre Ibelin, Arlia, os conflitos no continente, apenas meneando a cabeça e fazendo comentários que não entendi. Depois disso ele sorriu, e me pediu para levar a notícia de que o reino de Franca, ao norte, estava enfrentando problemas com bárbaros. Aparentemente os Anões das montanhas tinham se tornado um problema tão grande que o povo nômade das terras altas tinha resolvido descer, tentando invadir as terras dos francos.

- Mas olhe só, o Astro Rei já vai chegando ao meio de seu caminho, realmente ficamos aqui muito tempo! Venha meu rapaz, é hora de você levar sua encomenda.

Dizendo isso, levantou-se e me conduziu até um pequeno celeiro, onde um embrulho esférico, com aproximadamente um metro de diâmetro se encontrava no chão. O ergui, curioso, e o levei para a carroça. Era tão pesado quanto uma armadura metálica completa, mas era uma esfera maciça. Indaguei sobre o que era. Ele me olhou e abriu seu mais largo sorriso.

- É um metal que só os ferreiros de qualidade igual a de seu pai conseguem trabalhar. É chamado de Greyshard por alguns povos. Muito raro, muito raro, mas inigualável. Leve como couro e muito superior em rigidez aos metais convencionais. Imagino as maravilhas que o velho Bastian poderia realizar!

Sorri com o canto da boca. Meu maior sonho ainda era, um dia, superar meu velho. Greyshard. Então esse era o nome da minha meta. Um dia, prometi a mim mesmo, trabalharia o tão difícil metal. Eu não sabia, mas isso também era algo que viria a fazer uma grande diferença no futuro.

Segui viagem de volta, cantarolando uma canção muito comum das ruas de Ibelin. Minha viagem, no entanto, não seria tranquila.

Afinal, eu estava sendo seguido, e o golpe que veio, descendente, na direção do meu rosto, só não tirou minha vida porque o cavalo se assustou e acelerou com a carroça. Uma linha de sangue foi traçada abaixo do meu olho esquerdo, enquanto eu tentava retomar o controle do veículo.

Ouvi um barulho alto e soube que estava encrencado. A roda traseira partira e o melhor que eu pude fazer foi parar a carroça sem virá-la. Saltei, apressado, e saquei a espada.

Na minha frente, um homem de talvez dois metros de altura. Tinha os cabelos rentes ao crânio, pretos, uma barba crescendo irregular. Usava um sobretudo negro e uma armadura de couro da mesma tonalidade. Na mão direita, uma espada longa. Na esquerda, um escudo pesado de madeira. Me olhava nos olhos com um sorriso doentio, e eu soube que tudo o que ele queria ali era acabar com a minha vida.

Seria meu primeiro duelo com aço.

Continua...