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domingo, 13 de fevereiro de 2011

Aprendiz de Ferreiro - Prólogo



Olá pessoal!

Pra não perder o costume, cá estou eu novamente, com mais um pouquinho de produção literária. Esse conto é mais um dos projetos para o ano de 2011 e é baseado em uma aventura que rpg que eu estou jogando (Isso! JOGANDO! Não mestrando!). O personagem foi inspirado no personagem principal do filme Cruzada (Kingdom of Heaven, no original, aquele, com o Orlando Bloom... é, o filme bem que podia ser um pouco melhor, mas eu gostei, admito).



A aparência do personagem foi baseada no Albus, do jogo Castlevania: Order of Eclesia. Achei o concept art irado, e combinava com um personagem mais aristocrático, além de portar uma pistola de pólvora tiro-a-tiro. Depois desenhei o personagem tendo como referência a imagem abaixo, fazendo algumas alterações, mas tentando manter o mesmo estilo.



Foi assim que surgiu Darian de Ibelin (cliquem na imagem para ver em melhor resolução), o aprendiz de ferreiro com o qual eu estou me divertindo no momento, participando de grandes aventuras e rolando meus bons e velhos D6! Espero que gostem da história!



Um grande abraço e até a próxima batalha!

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Eu nasci no ano de 1486 depois do Cataclisma. Minha avó, mãe do meu pai, me contava histórias sobre a última aliança entre as cinco grandes raças. Os magos tentaram driblar a morte, ela contava, e o Deus da Morte ficou bravo. Lançou sobre o mundo três pragas. A maior delas era um gigantesco dragão, que nenhum herói conseguia derrotar. Foi então que cinco aventureiros, oriundos de regiões e raças diversas, empreenderam uma busca por um modo de derrotar a besta. Minha avó sempre me contava essa história.

No final, ela dizia, os heróis conseguiram derrotar o monstro, à custa de suas próprias vidas. O dragão caiu bem no meio do Grande Oceano, abrindo um gigantesco buraco. Minha avó diz que até hoje esse local é um local de mau agouro. Bem, não que isso faça muita diferença pra mim.

Me chamo Darian Ennabar e moro em uma cidade do interior de Brittania. Quando os humanos se espalharam pelos continentes, 1800 anos antes do cataclisma, eles se dividiram em cinco reinos. Em Sépala, continente onde fica Britannia, existem mais dois reinos. Franca, outro reino humano e, na cordilheira de montanhas no extremo norte, Korkhazad, o reino dos anões.

Ibelin é uma cidade pequena, mas próspera. Fundada poucos anos depois da capital, se situa a apenas dez dias de cavalgada em boa marcha. A cidade é cercada por um muro de pedras de seis metros de altura e quatro metros de espessura. Temos três centenas de cavaleiros bem equipados e experientes, e uma infantaria que conta com pouco mais de quatro mil guerreiros, mil lanceiros e quinhentos homens de achas. Nosso corpo de arqueiros conta com uma milha.

Mas o que eu sempre admirei mais, no exército de Ibelin, é o nosso corpo de artilheiros. Pouco mais de vinte anos atrás o alquimista da cidade voltou de sua peregrinação pelos continentes trazendo um grande avanço bélico: armas de pólvora negra. O prefeito e o general de brigada ficaram empolgados com a idéia e encomendaram a confecção de cinco centenas de fuzis e cinco centenas de pistolas. Um grupo de elite foi formado e, graças a esse grupo, a cidade rechaçou duas invasões de orcs selvagens e uma rebelião armada.

Não, eu não sou nenhum tipo de guerreiro, apesar de admirá-los bastante. Meu pai, Bastian Ennabar, é um dos cinco maiores ferreiros do mundo. Desenvolveu a técnica das Runas Balísticas, que permitem que efeitos alquímicos sejam impregnados em armas e armaduras, tornando-lhes especiais. Sempre me perguntei por que ele decidiu morar em uma cidade do interior, ao invés de em uma grande capital. Ele sempre me disse que foi para ser menos incomodado.

Quando eu completei quinze anos, meu pai deixou que eu começasse a acompanhar seu trabalho na forja. Ensinou-me a trabalhar couro e madeira, dizendo que eram os primeiros passos antes de trabalhar com metal. Com dezesseis anos eu tinha confeccionado minha primeira Loriga de Couro. Ficou um pouco melhor que as comuns e meu pai me elogiou, dizendo que eu tinha um talento nato para o ramo. Depois ele me colocou pra fazer uma dúzia de trabalhos difíceis, dizendo que eu deveria enfrentar dificuldades ou começaria a perder a humildade. Depois de inúmeros erros e insucessos, compreendi o que ele queria dizer.

Aos dezesseis dei forma à minha primeira espada de madeira. Tinha viajado com meu pai a uma cidade vizinha, para buscar suprimentos e especiarias para a forja. Temelkar era uma cidade costeira, e, na praia, um velho galeão jazia encalhado. Encantado, caminhei até os restos do imponente navio, me deparando com uma robusta ripa de carvalho escuro. Levei a peça de madeira para casa e trabalhei-a por meses, até conseguir uma boa espada longa. Guardei-a embaixo da cama, pois meu pai não aprovava muito minha atenção demasiada às artes de combate.

Um mês depois, confeccionei um broquel de olmo e bronze. Foi difícil conseguir a forma arredondada da madeira. Guardei-o embaixo da cama, juntamente com a espada. Meu velho continuava a desaprovar esse meu fascínio pelas batalhas. Comecei a freqüentar tavernas, à noite, e escutar as histórias dos veteranos de guerra e dos bardos. Passava horas à ouví-los, viajando, totalmente fora de minha realidade.

Foi numa dessas idas à taverna que conheci Simmos, o velho alquimista da cidade. Conversamos por bastante tempo. Eu estava muito admirado pela quantidade de conhecimento que ele demonstrava, sem ser arrogante. Noites depois, encontrei-o na mesma taverna, e ele deu-me um presente: um Codex, um livro onde os alquimistas anotam suas poções. Nesse livro estavam escritas quase uma dúzia de poções para iniciantes, além de conter esquemas para a confecção de pistolas de pólvora negra. Gastei quase um ano tentando, e finalmente consegui montar um modelo flintlock.51. Escondido, claro.

Assim que completei dezessete anos, meu pai me empregou como efetivo na forja. Deu-me mais responsabilidades, fazendo com que fosse bastante difícil continuar a estudar alquimia. Continuei praticando, todos os dias pela manhã, a esgrima e a artilharia, não me sobrando muito mais tempo para outras coisas. Minha vida tornou-se rotina. Acordava antes do Astro-rei nascer e praticava exercícios para o corpo. Estudava esgrima e artilharia. Quando o Sol nascia, tomava meu desjejum e ia para o trabalho na forja. Quando o Sol se punha, voltava para casa, cansado. Tomava um bom banho e jantava. Estudava um pouco nos livros e dormia em uma confortável cama de penas.

Eu gostava dessa rotina. Minhas habilidades estavam melhorando e eu almejava, um dia, superar meu pai na arte de forjar. Eu tinha uma vida simples, admito, mas era boa. Eu ouvia histórias de grandes feitos de heroísmo, conquistas em guerra e coisas assim, mas nunca, de verdade, quis ter meu nome nelas. Costumava pensar que todos esses heróis e personagens de histórias utilizavam grandes armas e armaduras, e algum ferreiro habilidoso as havia confeccionado. Eu sempre quis ser um desses ferreiros.

Engraçado como a vida às vezes toma rumos que nunca imaginamos.

Aquela semana estava quase no final. Mais um dia de forja tinha terminado, e eu me preparava para tomar um banho e dormir. Meu velho me chamou até a forja e me mostrou um conjunto de rédeas e equipamentos para atrelar um cavalo a uma carroça.

-Filho, amanhã você viaja para Arlia. Recebi uma mensagem de que a milícia de lá precisa de reparos em armaduras e armamentos. Quero que você vá buscá-los. Compre também, com o ferreiro local, cinco arrobas de ferro bruto, para os reparos. Tome aqui os brennans necessários.

Peguei a sacola que tilintava. Deveria haver ali talvez uns cem brennans de ouro. Era, sem dúvida, a maior quantidade de dinheiro que eu havia segurado de uma só vez em minhas mãos. Assenti com a cabeça, e fui tomar meu banho. Nem imaginava que aquela viagem seria o primeiro passo para um mundo de mudanças em minha rotina.

Continua...