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terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Aprendiz de Ferreiro - Capítulo 1



Olá Pessoal!

Cá estou eu, de novo e como prometido, para mais um capítulo dessa que está sendo a minha produção literária "Midseason" do momento! Hoje me aprofundando nas raízes familiares do protagonista, bem como apresentando mais um personagem importante para a história.

Gostaria de apontar duas coisas, sobre as imagens dos personagens em questão. A primeira é sobre Bastian, pai do protagonista. Ele foi inspirado no Gouken, mestre do Ryu e do Ken, do jogo Street Fighter (Ok, eu sei que quase todo mundo sabe quem são Ryu e Ken, mas eu tenho que explicar, de qualquer forma).



Já o irmão em questão era o personagem de outro jogador da mesa. Completamente baseado no Ezio, de Assassin's Creed II (na época o jogador estava totalmente viciado no game). Sua personalidade já é totalmente diferente da do protagonista, mas isso vai ficando claro à medida que a história vai avançando. Eu acho muito maneiro isso de, na aventura, ter como companheiro de mesa um personagem bem diferente. Surgem várias paradas interessantes, ao meu ver. Melhor do que uma mesa com todo mundo igual.



Um adendo: os nomes dos irmãos mais velhos e da mãe de Darian foram uma homenagem ao livro "A Batalha do Apocalipse" de Eduardo Spohr. Como RPG não tem direitos autorais, eu escolhi esses nomes para a família do personagem (quando eu criei Darian tinha acabado de ler o livro). Resolvi manter a homenagem aqui.

Enfim, fiquem agora com o conto!

Um grande abraço e até a próxima batalha!

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Normalmente o sétimo dia da semana é meu dia de folga. Daquela vez não foi. Meu pai tinha me incumbido de viajar até a cidade de Arlia, para buscar as armas e armaduras danificadas da milícia local para serem consertadas. Além disso, ele me entregou uma sacola com cem brennans de ouro, para comprar algumas arrobas de ferro bruto, material para os reparos.

Acordei cedo, como sempre. Me lavei ao lado do poço e vesti minhas roupas. Por cima da camisa, minha loriga de couro. No cinto, a pistola de pólvora negra. Caminhei até o estábulo, indo até a carroça, que já estava preparada para a viagem. Na boléia, sob o local onde ficariam os pés do auriga, deitei a espada de madeira. Tinha um certo mau pressentimento sobre aquela viagem, mas não sabia dizer exatamente o que era. Talvez fosse nervosismo por ser minha primeira viagem sozinho.

Já ia conduzindo a carroça quando percebi que meu pai me esperava na porteira de nossa propriedade. Ele tinha um aspecto severo. Era bem alto e seus músculos, devido ao ofício de ferreiro, eram grandes e potentes. Tinha orgulho do meu pai e sempre achei que ele sabia disso. Em parte, minha vontade de superá-lo na forja era nada mais que o desejo de um filho de ser digno do orgulho de seu pai.

-Cuidado na estrada filho. Apesar de ser um caminho seguro tenho escutado notícias sobre salteadores. Penso que você deveria levar seu irmão.

Estaquei. Por um momento franzi a testa, tenho certeza. A perspectiva de levar meu "irmão" nessa viagem era, no mínimo, intrigante. Explico. Minha família foi formada quando meu pai, Bastian, desposou minha mãe, Ishtar. Juntos eles tiveram cinco filhos. Minha irmã mais velha, Sieme, casou-se com um nobre de Alancar e mudou-se para lá. Meu irmão mais velho, Hazai, alistou-se cedo no exército do reino, tornando-se um capitão de Britannia. Meus irmãos mais novos eram dois gêmeos, Yan e Sarkan. Muito inteligentes, apesar da pouca idade, estavam estudando sob a tutela de meu antigo mentor, Robert Braunwald.

No entanto, meu pai não se referia a nenhum desses irmãos. Cinco anos antes daquele dia, surgira em Ibelin um jovem elfo desgarrado. Foi capturado pela guarda da cidade praticando furtos. Na época estava bastante emagrecido e bastante fraco. Por algum motivo, na época pensei em piedade, meu pai tomou o jovem elfo sob sua tutela. Tempos depois vi que não foi pena. Meu velho tinha um bom olho para perceber o potencial das pessoas. Ele viu, naquele elfo, uma pessoa de valor e o agregou a família. Anos depois eu já o chamava de irmão, e ele, em nossa casa, era tratado como tal.

Só que ele era um pouco... indisciplinado, seria a melhor palavra. Dedicava-se como poucos aos seus estudos e práticas de suas habilidades. Conseguia ser furtivo como ninguém, além de ter uma habilidade inata com fechaduras e armadilhas. Tinha também uma mira excelente, arremessando facas e adagas com precisão absurda.

Ele só tinha um fraco, eu diria, pelo sexo oposto. Em cinco anos eu perdi a conta dos pequenos escândalos que meu irmão arrumou com as filhas de nobres, plebéias, serviçais, viajantes e todo o tipo de mulheres que eu consigo lembrar e nomear. Por vezes maridos traídos e jovens apaixonados tentaram esganar meu irmão. Todas as vezes eu me envolvi, defendendo-o. Consegui com isso uma costela quebrada quando ele se engraçou com a filha do taverneiro, um militar veterano aposentado.

E agora ele viajaria comigo. Talvez meu pressentimento fosse isso, afinal. Abri um sorriso. Ele arrumava das suas, mas a verdade era que gostava bastante de sua companhia e de seu humor despreocupado. Foi sem surpresa alguma que notei que ele já aguardava próximo à porteira, sentado sobre uma árvore. Eu não o tinha notado antes e, provavelmente, o notara agora porque ele assim quisera. Ele realmente era bom nisso de passar desapercebido.

Ele desceu da árvore com agilidade e caminhou a largos passos até sentar-se ao meu lado no coche. Com um largo sorriso no rosto, puxou seu capuz para trás, expondo a face. Tinha traços longilíneos e um nariz reto. Cabelos e olhos negros, além das tão características orelhas pontudas élficas. Trajava roupas brancas e vermelhas, com botas pretas. Facilmente reconhecível, ele sempre dizia.

-Então irmãozinho, - ele disse - o pai diz que você precisa de uma ajudinha na viagem. Cá estou eu, seus problemas já não existem mais.

Puxou então o capuz cobrindo o rosto até deixar apenas a boca exposta.

-Logo, guie suavemente sim, pois eu preciso de um pouco de descanso - falou, se recostando no banco.

Não pude deixar de sorrir com o canto dos lábios. Esse era Alef, meu irmão elfo. Sempre irreverente.

Fiz um aceno de cabeça para meu pai e conduzi a carroça até a estrada. O cavalo era um robusto garanhão de carga marrom e atravessava sem problemas a estrada irregular e enlameada em alguns pontos. Havia chovido há um ou dois dias atrás e alguns atoleiros traiçoeiros poderiam atrasar nossa viagem, então eu estava bastante atento à estrada.

Talvez tenha sido essa atenção por causa da chuva que tudo aquilo aconteceu. Passávamos por um trecho da estrada que cortava uma floresta não muito densa. Entre as árvores o mato cobria os tornozelos. As árvores frondosas tinham as folhas alaranjadas, denunciando o início do outono. Alef lia um pesado livro com capa de couro curtido e tinha a expressão compenetrada. Eu prestava atenção nos atoleiros e nos barulhos da mata, enquanto o Sol se aproximava do poente, tão laranja no firmamento quanto as folhas das árvores.

Foi então que ouvi um grito de mulher, vindo de dentro da mata. Olhei imediatamente para Alef, mas ele não parecia ter notado. Cutuquei-o com o cotovelo, tirando-o de seu estado concentrado. Foi então que um segundo grito se fez ouvir. Um grito de socorro. Descemos da carroça com um salto. Alef seguiu na frente, mais rápido que eu. Empunhei a espada de madeira e o segui de perto.

Corremos por entre as árvores e chegamos até uma clareira na mata. Ali uma jovem de uns dezesseis ou dezessete anos era encurralada contra um grande carvalho. Ameaçando-a, um animal que eu nunca antes havia visto naquelas paragens. Tinha aproximadamente dois metros de altura. Era humanóide, com o corpo coberto de espessa pelagem castanha. Os dentes eram grandes presas e suas mãos eram grandes de forma algo desproporcional, assim como seus braços, o que fazia que o ser andasse de quatro e ainda assim fosse mais alto que eu ou Alef.

-Ei, seu gorilão, vem pegar alguém do seu tamanho!

Era Alef bradando em alto e bom som. Até hoje acho que ele só fez isso para chamar a atenção da garota e não da criatura. Logo depois de berrar, meu irmão lançou uma adaga curta em direção a coxa do bicho, que urrou de dor, seu sangue escuro e espesso manchando o mato.

-Obrigado por estragar o elemento surpresa!!!

E, com esse grito de guerra não usual, parti para cima da criatura, empunhando a espada com as duas mãos. Girei a espada em um golpe horizontal que acertou a criatura bem no meio do tórax. Ouvi um barulho similar a um galho grosso se quebrando, e a criatura novamente urrou, agitando os braços compridos. Me interpus entre o golpe e a menina, aparando-o com a espada. Sorri quando percebi que a madeira tolerou o golpe sem lascar.

O animal, ainda urrando, fugiu pela mata, deixando um pequeno rastro sanguinolento. Alef se aproximou de mim, com um sorriso enorme no rosto, seu capuz abaixado. Olhou atentamente para a donzela que havíamos acabado de salvar. Era uma jovem de cabelos ruivos, olhos verdes e a pele branca com sardas esparsas nas maças do rosto e... bem... no espaço visível pelo decote de seu vestido azul-claro. Era bonita, e, nesse momento, eu previ mais um dos pequenos escândalos envolvendo meu irmão.

Eu não podia estar mais enganado. Aquela jovem iria ter um papel importante no meu futuro.

Continua...