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sábado, 26 de fevereiro de 2011

Aprendiz de Ferreiro - Capítulo 2



Olá pessoal!

Novamente, com minha série midseason. Espero que gostem. Hoje não tem desenhos ou imagens novas, porque eu estou preparando um especial para o próximo capítulo. Aguardem um pouquinho que eu acho que vai ser legal!

Sem mais delongas, fiquem com o capítulo 2!

Um grande abraço e até a próxima batalha!

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A garota se chamava Adrianna. Eu e meu irmão elfo havíamos acabado de afugentar uma criatura simiesca e feroz que tinha encurralado a menina em uma clareira na mata. Caminhei até a jovem, que mal conseguia ficar de pé, tamanho o seu medo e, com a mão livre, ajudei-a a se levantar.

Foi então que meu irmão resolveu se aproveitar do meu travamento frente aos membros do sexo oposto para se divertir naquela tarde, logo após a luta contra a criatura.

-Ó bela donzela, contemple o seu salvador - bradou Alef enquanto fazia movimentos com as mãos no ar, me lembrando um menestrel.

Apontou então para mim, segurando meu braço da espada pelo pulso e o erguendo. Na hora fiquei tão sem jeito que nem reagi.

-Darian de Ibelin! Seu salvador ao seu dispor, nobre donzela!

Continuei calado e como que petrificado. Não nasci com o dom de manter meia dúzia de palavras com o sexo oposto. Simplesmente não possuo a naturalidade de conversar com elas e conquistá-las. Até penso em coisas interessantes de se dizer, mas... travo. Simples assim.

A jovem abriu um sorriso. Dias depois me confessou que achou hilárias as cabriolagens de meu irmão, em contraste com a minha expressão de estátua. Logo depois de sorrir, a menina atirou-se em meus braços e fui obrigado a abraçá-la para não deixar que caísse. Meu irmão, imediatamente, deu a volta, ficando de frente pra mim, uns dois metros atrás da garota. Eu tenho vontade de matá-lo até hoje, por causa das expressões e gestos embaraçosos que ele fez.

Depois que a jovem conseguiu se recompor, já não necessitando mais de meu auxílio para ficar de pé, perguntamos a ela seu nome, de onde era, o que fazia por aquelas bandas e se estava ferida.

-Me chamo Adrianna Thorn. Sou filha de Cletus Thorn, o ferreiro da cidade de Arlia. Estamos sendo constantemente atacados por orcs... é terrível... eu decidi, sozinha, ir buscar ajuda, mas não consegui ir muito longe. fui atacada por aquela criatura que vocês espantaram. Obrigada... eu estaria morta não fosse por vocês.

Ela falou tudo aquilo rápido demais. Então Arlia estava sendo atacada por orcs. Fazia sentido agora uma parte de nossa viagem. "A milícia de Arlia está tendo problemas. Estão com muitas armas e armaduras danificadas" dissera meu pai. Perguntei-me se ele já sabia do que estava se passando. A jovem decidira buscar ajuda sozinha... o que poderia estar havendo para que Arlia não estivesse mandando mensageiros aos quatro ventos em busca de auxílio... a não ser que eles estivessem sendo seguidos e mortos ou capturados.

Nos apresentamos, Alef e eu, e nos oferecemos para levá-la de volta para Arlia. Quando voltamos à carroça, agora com Adrianna sentada entre meu irmão e eu, na boléia, dei velocidade à nossa viagem. Queria chegar logo e ver em que estado se encontrava a cidade. Uma idéia começava a se delinear na minha mente, mas eu não havia dado à ela todos os contornos.

Depois de mais algumas poucas horas de viagem fomos todos capazes de divisar a cidade no horizonte. Arlia era uma cidade quase do tamanho de Ibelin, mas muito menos protegida. Sua muralha estava danificada e, sendo a cidade na forma de uma letra "L", apenas a perna mais curta era guardada pelos muros. A maior parte da cidade contava apenas com paliçadas em pontos esparsos. Os soldados que faziam guarda em uma das entradas de Arlia estavam abatidos, em nada lembravam a imponência dos guardas de minha cidade. Quando passamos por eles, pareceram reconhecer Adrianna, espantados. Acho que não acreditavam que ela sobreviveria.

Adentramos a praça principal da cidade. O cenário era aterrador. Pedintes e feridos se arrastavam pelas ruas. Soldados se mostravam em estado de tensão máxima, mas pouco armados e com peças de armaduras mal cuidadas. Estacionei a carroça ao lado da casa de pedra onde o ferreiro local se instalara.

Descemos e adentramos o local, sendo recebidos por uma senhora aos prantos. Abraçou Adrianna e não parou de chorar por um bom tempo. Aquela era Arlanna Thorn, sua mãe. Cletus, o ferreiro, se adiantou e nos agradeceu por ter trazido a menina de volta para casa. Nos ofereceram um jantar, ao qual Alef não pensou duas vezes em aceitar.

Durante o jantar, fomos informados do que estava acontecendo. Cletus disse que, aproximadamente, de quinze em quinze dias, a cidade era alvo dos ataques de uma tropa de orcs. Achei estranho orcs tão organizados assim, em Sépala. É verdade que, nas ilhas do leste, os orcs são tão organizados que possuem um território próprio e um reino reconhecido, mas sempre achei que os outros orcs eram selvagens e errantes. Mais uma coisa que eu aprenderia da forma mais difícil.

-Então rapazes, é isso. Faz meses que estamos sendo atacados. Nossos mensageiros são mortos nos arredores. Os orcs estão minguando nossas forças cada vez mais e, para ser honesto, não acredito que resistiremos à próxima investida.

O senhor Cletus era um homem forte, alto, tinha os cabelos ruivos e o olho verde. Não possuía o olho esquerdo, tendo no lugar dele uma cicatriz originária de um corte que se iniciou próximo do seu couro cabeludo e o rasgou até o queixo. Me pareceu estranho um homem imponente daqueles ter tanto medo em sua voz.

Tínhamos que fazer alguma coisa. Olhei para Alef e ele tinha uma expressão séria em seu rosto. No seu íntimo concordava comigo.

-Senhor Cletus, vim mandado por meu pai, Bastian Ennabar. Devo levar as armaduras e armas para minha cidade, para serem consertadas o mais rápido possível. Além disso, preciso de aproximadamente cinquenta quilos de ferro bruto.

Ele me olhou e assentiu, agradecido.

-Outra coisa senhor, quando será o próximo ataque?

Cletus franziu a testa por um momento antes de responder.

-Daqui a quatorze dias.

Assenti.

-Entendo. Bom, são dois dias para ir, dois dias para voltar. Mais dois dias para os reparos. Sobram-nos oito dias.

Ergui-me.

-Senhor, eu e Alef partiremos imediatamente. Faremos os reparos o mais rápido possível e retornaremos com auxílio de parte da guarda de Ibelin. Arlia sempre foi uma cidade aliada, não deixaremos que nada de mal lhes aconteça. Por favor, enquanto estivermos fora, providencie para que mais paliçadas sejam construídas. E estoque óleo. Talvez eu tenha um plano.

Nos retiramos da cabana do homem, que pareceu um tanto quanto confuso por um instante. Acho que é assim que as pessoas sem esperança ficam quando uma fagulha lhes é acesa novamente. Ficou parados apenas alguns segundos antes de assentir. Eu sabia, dentro de mim, que podíamos salvar aquela cidade. Teríamos apenas que ser rápidos.

-Então você resolveu ser herói agora, Darian? Sabe, eu sempre achei que isso combinaria mais com você do que os bastidores.

Alef sorriu enquanto subia na carroça, agora carregada com os equipamentos danificados da milícia de Arlia, bem como com mais de sessenta quilos de ferro.

Olhei para ele enquanto subia. Sorri.

-Nunca pensei em ser herói, Alef, mas essa cidade precisa de heróis. Então, enquanto eles não aparecem, nós vamos ter que bastar!

Acelerei a carroça como nunca antes havia feito. Era como se tropas orcs estivessem em nosso encalço.

Mal sabia eu que realmente estavam.

Continua...